9 DE MARÇI DE 2017
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Nos cinco cenários apresentados pela Comissão, falta um. E esse é o cenário da rotura com uma União
Europeia cada vez mais contrária aos interesses de Portugal, do nosso povo e de todos os povos da Europa. É
o cenário da libertação de Portugal da submissão ao euro e da recuperação da nossa soberania.
É nesse sexto cenário que reside o futuro de uma Europa de paz, cooperação e solidariedade, e não uma
União Europeia de exploração, retrocesso, imposição e guerra.
Veja-se a opção que é feita no projeto de conclusões do Conselho quanto ao que é considerado urgente e
ao que é adiado. Aposta-se no militarismo e na deriva securitária, enquanto os problemas económicos e sociais,
que atingem os países e os povos, são adiados para as calendas. Está lá escrito: corra-se no aumento dos
gastos militares e na operacionalização da chamada «estratégia global militarista» da União Europeia, mas adie-
se para novembro a discussão sobre crescimento e empregos justos.
Quase que poderíamos resumir o projeto de conclusões do Conselho Europeu numa única frase: pouco ou
nada de novo e, no que é novo, mais do mesmo ou pior ainda.
Desde logo, no que toca às questões económicas e sociais, o Conselho Europeu irá aprovar as linhas de
política económica da zona euro e as ditas «recomendações e prioridades para os planos nacionais de
reformas» e para os ditos «programas de estabilidade e convergência», ou seja, a bateria de chantagem e
imposição que bem conhecemos.
O projeto de conclusões repete ainda a ladainha da necessidade das reformas estruturais, do
aprofundamento do mercado único, nomeadamente do mercado único digital, e da finalização da união bancária.
Sobre a união bancária, Sr. Primeiro-Ministro, a recapitalização da Caixa Geral de Depósitos e a recente
discussão sobre o Governador do Banco de Portugal demonstram bem quais os verdadeiros objetivos por detrás
deste processo de concentração do sistema financeiro no plano europeu e confirmam e necessidade de
recuperarmos a nossa soberania monetária, e também na supervisão bancária, colocando sob controlo nacional
o Banco de Portugal, que está transformado numa sucursal do Banco Central Europeu.
A união bancária não pretende tão-pouco prevenir que sejam os cidadãos a pagar os buracos da banca.
Veja-se a recente proposta da autoridade bancária europeia de criar um veículo financeiro para o crédito
malparado. Além de constatar a falácia que é a união bancária, esta proposta constitui uma nova forma,
complementar à união bancária, de pôr o povo a pagar os desmandos do capital financeiro e os prejuízos da
banca.
Simultaneamente, o Conselho repete a sua profissão de fé nos tratados de livre comércio e saúda a
aprovação do CETA (Comprehensive Economic and Trade Agreement) pelo Parlamento Europeu. Sobre esta
questão, Sr. Primeiro-Ministro, queremos reiterar-lhe a nossa frontal oposição a este acordo, que vai prejudicar
duramente o nosso País em vários sectores económicos nacionais e que é um atentado aos direitos laborais e
sociais dos portugueses. É um desrespeito pela democracia e a soberania nacional dar acordo à entrada em
vigor do CETA, sem o necessário processo de ratificação.
Duas últimas notas sobre o tão falado reforço do Plano Juncker. A primeira é que nem uma palavra sobre o
orçamento da União Europeia, em ano de revisão intercalar; e a segunda é que os fundos europeus se mantêm
no seu mínimo histórico. E as perguntas são inevitáveis: está o Governo de acordo com as regras do Plano
Juncker? Concorda com a subjugação dos parcos recursos da coesão a planos, como o Juncker, orientados
para as PPP (parcerias público-privadas) e para instrumentos financeiros que beneficiam, em primeiro lugar, os
mesmos de sempre? E como é que explica as teses fantasiosas sobre capacidade orçamental da zona euro,
quando o silêncio sobre o orçamento é de chumbo?
O Sr. Presidente: — Peço-lhe que conclua, Sr. Deputado.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo e Srs.
Deputados, concluo, dizendo que estas são questões a que o Governo deve dar resposta, mas que não podem
fazer esquecer a questão de fundo, a da construção de uma outra Europa, dos trabalhadores e dos povos, uma
Europa de paz, cooperação e solidariedade.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.