9 DE MARÇI DE 2017
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Se há alguma coisa que o euro nos deve ter ensinado é que ficar no pelotão da frente significou para Portugal
empobrecimento, endividamento e privatizações. E quando temos, em cinco cenários, a ausência completa da
expressão «Estado social», devemos perceber que este pelotão da frente não nos serve, seguramente.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — O que o euro nos ensinou até agora é que querer «dar passos maiores do
que a perna» não é avançar mais depressa, é espalharmo-nos ao comprido.
Por isso, Sr. Primeiro-Ministro, pelotão da frente? Europa a várias velocidades? Vamos mesmo entrar no
campeonato do correr para o fundo, quando a Europa corre para o abismo. Queremos mesmo ir à frente?
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Mota Soares, do Grupo Parlamentar do CDS-PP.
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados:
Sr. Primeiro-Ministro, antes de mais, permita-me só que faça uma breve consideração sobre o comentário que
o senhor há pouco fez sobre a comunicação social.
O Primeiro-Ministro que comenta isso sobre a comunicação social é o mesmo que enviava SMS polémicas
a diretores-adjuntos do jornal Expresso?
A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Ora bem!
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — O Primeiro-Ministro que hoje fala de editoriais é o mesmo que teve
um editorial dirigido exatamente a si, que tinha como título É a liberdade, António Costa?
Mais uma vez percebemos que para este Governo o problema é sempre o mensageiro. Não é, Sr. Primeiro-
Ministro. O problema, para a bancada do CDS, é quem passa as notícias e quem tenta colocá-las. Não consta
que alguma vez, na bancada do CDS, alguém tenha enviado umSMS a um jornalista a fazer pressão ou uma
ameaça.
Risos do PCP.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Vocês são uns artistas!
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Permita-me agora, Sr. Primeiro-Ministro, falar mais concretamente
sobre o Conselho Europeu que vai realizar-se a partir de amanhã. É um Conselho que acontece numa altura
muito delicada para a Europa, confrontado com o fenómeno do Brexit, com uma crise humanitária de refugiados,
à qual a Europa ainda não conseguiu dar resposta, confrontado com um problema muito sério à sua segurança
— temos terrorismo dentro da nossa fronteira —, confrontado com um problema sério da crise do euro, cuja
arquitetura ainda não está fechada e isso está a dificultar, e muito, o crescimento das economias europeias, o
financiamento das economias europeias mas, muito especialmente, da economia portuguesa, e é também a
primeira reunião depois da apresentação do Livro Branco sobre o Futuro da União Europeia.
Quero dizer-lhe, muito claramente, que esta discussão sobre o Livro Branco não pode significar o adiamento
de decisões vitais para Portugal e para a Europa, como, por exemplo, a da conclusão da União Económica e
Monetária, muito especialmente do mecanismo de supervisão dos depósitos, que é fundamental para voltar a
dar confiança à banca e, acima de tudo, permitir que o sistema bancário possa virar-se mais para o
financiamento da nossa economia.
Reconhecemos, certamente, pelo menos, o mérito — até para sermos simpáticos — de este Livro Branco
chamar à colação a discussão entre todos os europeus. Certamente que isso poderá ter o seu mérito, mas não
pode é significar o adiamento, por mais nove meses, de decisões que já estão tomadas e que têm de ser
asseguradas, porque são vitais para o dia a dia dos europeus em Portugal, em Espanha e em todos os países
da Europa.