9 DE MARÇI DE 2017
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que tem em conta, como referi, os saberes transmitidos pela Organização Mundial de Saúde e pela Ordem dos
Médicos.
As crianças, os progenitores, as entidades empregadoras e, consequentemente, a sociedade em geral,
ficarão a ganhar no caso de esta proposta ser aprovada. Esperamos, portanto, que haja concordância de todos
os grupos parlamentares nesse sentido.
Sr.as e Srs. Deputados, temos uma grande responsabilidade para que as mulheres, em pleno século XXI,
não sejam discriminadas no trabalho em função das matérias da maternidade.
Aplausos do BE e do PCP.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Em nome do Bloco de Esquerda, tem agora a palavra a Sr.ª
Deputada Sandra Cunha, para intervir.
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr.as Deputadas, Srs. Membros do Governo:
Celebramos hoje, aqui, o Dia Internacional das Mulheres, naquilo que este dia significa em termos de conquistas
e avanços alcançados na promoção dos direitos das mulheres e da igualdade de género, mas também no que
respeita ao que ainda nos falta fazer, ao caminho que ainda nos falta percorrer.
Esse caminho é mais ou menos longo e mais ou menos sinuoso consoante o país, a cultura, o apoio social
ou o regime político onde esta luta se concretiza. E, por isso, importa lembrar que a luta das mulheres é, e tem
de ser, internacional.
Não podemos aceitar que os direitos mais fundamentais das mulheres sejam uma questão de sorte — sorte
com o país onde se nasce, com a cultura, com a religião ou com a família.
A nossa tem de ser a luta de todas as mulheres: trabalhadoras, desempregadas, imigrantes, refugiadas,
casadas, solteiras, mães, inférteis, escolarizadas, analfabetas, muçulmanas, católicas, judaicas, ateias,
lésbicas, transsexuais. Toda e qualquer mulher, em qualquer parte do mundo, exige o nosso maior empenho e
a nossa mais profunda solidariedade.
Em Portugal, são conhecidos por todos e por todas nós os avanços alcançados nesta luta, bem como aquilo
que falta fazer. Esta análise está plasmada nos vários relatórios, pareceres e estudos sobre esta matéria.
A violência doméstica e a violência no namoro, a tragédia dos femícidios, as diferenças salariais e as
dificuldades no acesso aos cargos de liderança e tomada de decisão, a participação política, a conciliação entre
trabalho e família, a partilha das tarefas domésticas, a discriminação quotidiana, o paternalismo, a
condescendência, os estereótipos de género, sabemos bem onde temos de trabalhar e como. Prova disso são
os projetos que hoje estão aqui em discussão.
Esta responsabilidade que recai sobre nós, a responsabilidade de garantir direitos e de garantir a igualdade
entre cidadãos e cidadãs, é das maiores responsabilidades que alguém pode ter.
Não podemos desprezar a responsabilidade que recai sobre nós enquanto Deputados e Deputadas mas
também enquanto homens e mulheres, enquanto cidadãos e cidadãs, que é a responsabilidade de transferir a
igualdade da lei para a vida. E uma das maiores dificuldades que este desígnio enfrenta é a discriminação
internalizada, aquela que naturaliza e normaliza o paternalismo, o machismo, a condescendência, que considera
normal e natural que as mulheres tenham de provar, a todo o momento, o quanto valem ou que valem o mesmo
do que os homens para legitimar o acesso aos direitos e ao tratamento que a estes é garantido à partida, que
rejeita a existência de obstáculos, barreiras e discriminações várias.
E porque esta é uma realidade mais passível de acontecer nos espaços com estruturas mais hierarquizadas
e com um funcionamento mais rígido e que, durante muitos anos, foram território exclusivo dos homens, o Bloco
de Esquerda traz hoje aqui um projeto que pretende aprofundar o combate à discriminação das mulheres e a
promoção da igualdade de género nas forças e serviços de segurança.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Falta consciencialização sobre o papel e a relevância do trabalho das mulheres
nestas forças e nestes serviços de segurança, falta adequação das instalações e equipamentos ao exercício