24 DE MARÇO DE 2017
37
cujas candidaturas estão abertas; o reforço do consumo e da valorização da produção nacional; o reforço da
vigilância sobre as práticas individuais restritivas do comércio; a abertura de novos mercados de exportação; e
o aumento das ações ao nível da atuação comercial junto de mercados prioritários externos.
A realidade é que se começa a assistir à redução dos impactos negativos da crise e os produtores de leite
ganham uma nova esperança, tendo para isso contribuído a criação do Programa Específico para o Setor do
Leite e Produtos Lácteos, cuja execução está em plena operacionalização e cujos resultados têm sido positivos.
Recorde-se ainda que foi este Governo que assumiu que esta crise deveria ter uma resposta europeia. Aliás,
o Governo do PS foi mesmo um dos impulsionadores da redução voluntária da produção de leite, medida que a
Comissão Europeia veio a adotar e que já permitiu a redução de quase um quarto da produção de leite em
Portugal.
Apesar de todas estas medidas, o setor leiteiro continua sujeito a fatores externos e a recuperação ténue
que estamos a observar no setor não implica que possamos baixar a nossa atenção. Esta crise foi e ainda está
a ser muito profunda e, por isso, é importante criar condições para prevenir possíveis alterações conjunturais
que afetam todos os agricultores.
Consideramos, pois, que é solidariamente relevante introduzir, ainda neste ano, um regime de dispensa
parcial e temporária do pagamento de contribuições para a segurança social, pelo período de um ano, medida
que hoje apresentamos a esta Assembleia, a par da continuação do reforço das outras medidas implementadas
por este Governo.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem, agora, a palavra o Sr. Pedro Soares para uma intervenção.
O Sr. Pedro Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: A situação que se vive no
setor do leite é uma situação grave. Estamos confrontados, neste setor, com um mercado europeu inundado por
excesso de oferta e que continua a pressionar gravemente a produção nacional para um abaixamento do preço
pago ao produtor.
Neste cenário de completa desregulação, ao invés de adotar uma política concertada de produção e de
estabilização de preços, a União Europeia optou por uma falsa autorregulação, que não é mais do que um
«salve-se quem puder», ao decidir acabar com as quotas leiteiras em 2015. O resultado está à vista: os
produtores leiteiros portugueses continuam a receber muito abaixo dos custos de produção e, na sua
generalidade, estes homens e mulheres, no continente e nas ilhas, continuam a pagar para produzir e a pagar
para trabalhar. É uma situação de profunda injustiça, à qual não podemos virar as costas.
Depois de instalar o caos no setor com o fim do regime de quotas, a União Europeia alija as suas
responsabilidades e atira o problema para cima de cada país individualmente considerado, tal é a inabalável fé
no sacrossanto mercado dito livre.
Vemo-nos, assim, chegados a este ponto: numa tentativa solidária de menorizar os estragos destas decisões
comunitárias, são dinheiros nacionais que permitem pagar a redução das contribuições dos produtores para a
segurança social, as linhas de crédito para fundo de maneio e de desenvolvimento e outros apoios avulso foram
decididos, em 2015 e em 2016, aqui, nesta Assembleia. É caso para perguntar: mas, afinal, onde é que anda a
famosa Política Agrícola Comum? Onde está a PAC? Com que olhos é que a PAC olha para o setor leiteiro?
Além disso, apesar de o setor apresentar um défice de mais de 200 milhões de euros, a grande distribuição
continua a comprar a quem vende mais barato, não tendo em conta fatores como o da qualidade, e é evidente
que quem sai prejudicado são os produtores portugueses, que continuam a sofrer a pressão para a baixa de
preço, de forma injusta e com receitas que não cobrem os custos de produção.
Do nosso ponto de vista, só uma intervenção firme no mercado, com uma regulação concertada, a expensas
do orçamento comunitário, como tem de ser, poderá devolver alguma esperança a estes homens e mulheres
que se endividaram, que investiram, que modernizaram, que trabalharam e trabalham arduamente para produzir
leite e alimentar a indústria dos laticínios no nosso País.
Não nos esquecemos dos principais motivos que levaram à degradação do setor — e isto, por vezes, fica um
pouco obnubilado na cabeça de alguns grupos parlamentares — e não deixamos de nos bater por uma regulação
do mercado, nem por uma justa remuneração dos produtores.