25 DE MARÇO DE 2017
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deficiência e das suas famílias, mas não podemos deixar de refletir aqui a perplexidade que muitas dessas
pessoas nos comunicaram e que partilhamos.
Estranhamos o interesse do CDS por estas matérias, quando nos recordamos de que uma das primeiras
coisas que o Governo PSD/CDS fez parte foi cortar 3 milhões de euros no orçamento para atribuição de produtos
de apoio às pessoas com deficiência. Lembro-me bem, porque estive com um grupo de homens e mulheres
com deficiência que teve de passar uma noite, bastante fria, em frente ao Parlamento até que o Governo se
comprometesse a repor essa verba. Depois, não cumpriu a palavra dada, mas quem se lembra do anterior
Governo não estranhará esse facto.
Aplausos do BE e do Deputado do PS Ascenso Simões.
Trata-se de um partido que agora diz que o Governo tem de ouvir as organizações das pessoas com
deficiência, mas extinguiu, logo em 2011, o Conselho Nacional para a Reabilitação e Integração das Pessoas
com Deficiência, órgão consultivo onde essas organizações estavam representadas.
Esse partido está agora muito preocupado e quer fazer uma campanha de sensibilização para o cumprimento
das normas técnicas de acessibilidade, mas foi da responsabilidade do Governo do CDS e do PSD o Decreto-
Lei n.º 53/2014, que isentou e continua a isentar do cumprimento dessas mesmas normas todas as operações
de reabilitação de edifícios que se destinem a uso habitacional e que tenham 30 anos ou mais ou que se
encontrem localizados em áreas de reabilitação urbana.
Na oposição preocupam-se, no Governo permitiam a exclusão das pessoas com deficiência.
Se este interesse fosse um pouco mais antigo, já teríamos há muito tempo avançado para a realização de
uma política de vida independente em Portugal, pois teriam implementado o projeto-piloto de assistência
pessoal, previsto na Estratégia Nacional para a Deficiência 2011-2013, que nunca saiu do papel.
Em 2014, o então Ministro Mota Soares, se estivesse preocupado com a situação das pessoas com
deficiência, poderia ter exigido ao seu Secretário de Estado Agostinho Branquinho o cumprimento da promessa
feita formalmente ao Movimento (d)Eficientes Indignados, aqui mesmo, numa sala desta Assembleia, de iniciar
a redação da legislação relativa à vida independente no primeiro trimestre de 2014. Como sabem, esta legislação
não existe, o que é natural, porque nunca começou a ser redigida.
Em novembro de 2012, criaram uma comissão que teria de propor até outubro de 2013 uma nova estratégia
nacional para a deficiência para o período de 2014-2020, que até hoje não viu a luz do dia. Uma estratégia que
era e continua a ser necessária para deixarmos de navegar à vista, de medida avulsa em medida avulsa, como
as que apresentamos hoje, algumas muito interessantes, outras nem por isso, mas todas avulsas.
Claro que algumas dessas propostas — e não me estou a referir unicamente às do Bloco de Esquerda —
vão melhorar a vida das pessoas com deficiência.
É com esse objetivo que propomos a eliminação da aplicação do fator de sustentabilidade aquando da
transformação das pensões de invalidez em pensões de velhice, porque não é justo baixar o rendimento a estas
pessoas por terem chegado ao limite de idade da pensão de invalidez.
E porque as famílias que têm crianças com deficiência precisam de tempo para lhes prestar assistência,
propomos o aumento do tempo da licença parental, do período de redução do horário de trabalho e da licença
para assistência a filho com deficiência ou doença crónica.
É para melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiência que propomos que as viaturas classificadas
como Classe 2 que se destinem ao uso de pessoas com deficiência sejam consideradas como Classe 1 para
efeito de pagamento de portagens. As pessoas que são obrigadas a ter viaturas com estas características não
podem continuar a ser limitadas na sua mobilidade e a pagar mais 75% por cento do valor de portagens que
pagariam se tivessem oportunidade de utilizar outro tipo de viatura.
É para melhorar a qualidade de vida destas pessoas que propomos que seja reposto o desconto de 25% nas
tarifas da CP, a que as pessoas com deficiência entre 60% e 79% de incapacidade deixaram de ter direito já na
vigência do atual Governo.
Finalmente, é nesse sentido que apresentamos um conjunto de recomendações sobre os aspetos que
consideramos mais importantes e mais urgentes na revisão do Decreto-Lei n.º 3/2008, para termos uma escola
verdadeiramente inclusiva.