I SÉRIE — NÚMERO 83
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alimentação é em espécie ou em dinheiro — valores que rondam uma média mensal de 35€ —, acabar com o
subsídio suplementar de doença e perder o abono para falhas, a rondar os 23 € mensais.
Mais: os trabalhadores poderiam ser transferidos para qualquer parte da ilha, sendo as despesas de
deslocação da sua responsabilidade; os dias de descanso poderiam ser alterados conforme a necessidade da
empresa, sem respeito pela necessidade do trabalhador, e ainda poderiam ser sujeitos à imposição do banco
de horas.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Que vergonha!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Em suma, Sr. Presidente, Srs. Deputados, para além do prejuízo de articulação
da vida familiar, pessoal e profissional, a caducidade do contrato coletivo de hotelaria na Região Autónoma da
Madeira resultaria num corte salarial superior a 120 €, num salário de 600 €.
Esta situação é ainda mais chocante quando a região vê aumentar o número de camas e o setor apresenta
resultados francamente positivos.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Na verdade, os lucros de uma minoria são amassados à custa da retirada de
direitos a uma maioria.
Veja-se o exemplo do SAMS (Serviço de Assistência Médico Social) do Sindicato dos Bancários, onde, desde
2011, a entidade patronal pretende a caducidade do contrato e onde a generalização dos falsos recibos verdes,
do trabalho temporário, sem respeito pelos tempos de descanso, é o que grassa no dia a dia dos trabalhadores,
quer sejam médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico e de terapêutica ou auxiliares de ação médica.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, o patronato nunca se conformou com a perda do
poder unilateral de impor as regras nas relações de trabalho. Cedo iniciou o bloqueio à negociação coletiva,
chantageando os sindicatos nas negociações e recusando aumentar os salários, caso não aceitassem a redução
de direitos.
A história tem provado que esta conquista da democracia — a contratação coletiva — não tem tido vida fácil
e tem sido alvo de cerrados ataques.
Por um lado, através das sucessivas alterações ao Código do Trabalho, admitindo a caducidade das
convenções,…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — … a eliminação do princípio do tratamento mais favorável ao trabalhador, a
possibilidade de serem fixadas nas convenções condições de trabalho inferiores à lei, a explicitação da adesão
individual às convenções, a introdução dos regimes de adaptabilidade e dos bancos de horas, impondo mais
horário e menos salário.
Por outro lado, sob a ameaça da guilhotina da caducidade, através da imposição de propostas patronais
inaceitáveis com o único objetivo de reduzir e de eliminar direitos.
Foi no ano de 2003 que, pela mão de um Governo PSD/CDS, se ofereceu ao patronato a caducidade das
convenções e a eliminação do princípio do tratamento mais favorável ao trabalhador.
Não perderam tempo e o patronato empenhou-se numa queda significativa do número de contratos
acordados e, sobretudo, numa brutal diminuição do número de trabalhadores abrangidos pela contratação
coletiva.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!