I SÉRIE — NÚMERO 83
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pensável, sequer, que o Partido Socialista vá, nos tempos mais próximos, desvalorizar a concertação social.
Pelo contrário, é nosso objetivo que a concertação social possa contribuir, de facto, para a dignificação dos
acordos, até porque, na nossa opinião, não há acordos que sejam tão sustentáveis, por razões óbvias, como os
que são conseguidos em termos dos parceiros sociais e do Governo.
Também não desvalorizamos, como é óbvio, as competências e o poder legislativo do Parlamento. Parece-
nos é que, antes do debate na concertação social, não faz qualquer sentido e, mais, temos um Livro Verde sobre
as Relações Laborais, cuja análise está proposta pelo Governo, e, portanto, neste momento, parece-nos
extemporâneo, repito, fazer qualquer alteração à legislação laboral.
Último ponto: sem margem para dúvidas, sobre a caducidade, a nossa posição tem sido completamente
clara. Ou seja, rejeitamos, por um lado, que a caducidade das convenções coletivas sirva de arma de arremesso
às entidades patronais, mas também não nos parece que seja útil um retrocesso às condições e às situações
que existiam antes do Código do Trabalho de 2003. E já vamos dizer porquê. Se forem ver a análise aos dados
do Centro de Relações Laborais relativamente a 2016, verificam que, neste momento, temos 750 000
trabalhadores abrangidos por negociação coletiva — bem sei que o número é muito abaixo daquele que já
tivemos, mas é três vezes mais do que chegámos a ter em anos passados.
A Sr.ª Deputada defende que a caducidade das convenções coletivas é um fator de bloqueio para a
dinamização dos conteúdos — disse-o há pouco. No entanto, antes de 2003 — muitos são os exemplos, e posso
dar-lhos —, existiam convenções que só atualizavam salários, deixando enquistar ad aeternum matérias
consideradas de defesa e de salvaguarda dos direitos dos trabalhadores, como, por exemplo, as categorias
profissionais, mas poderia dar outros exemplos. Uma convenção que está completamente desatualizada
relativamente às categorias profissionais não pode de maneira nenhuma proteger esses trabalhadores, deixa-
os completamente desprotegidos.
Embora se possam vir a repensar alguns aspetos da caducidade em vigor, não é ela a causadora da falta de
dinamismo da negociação coletiva, porque, se assim fosse, não teríamos tido, antes de 2003, esta situação;
pelo contrário, teríamos tido sempre uma negociação coletiva extremamente ativa. Do nosso ponto de vista,
para isso contribuíram muitos fatores que não devem ser descurados, como, por exemplo, os quatro anos
passados do Governo PSD/CDS, o medo que foi instalado, a desvalorização do trabalho, a nítida proteção dos
mais fortes, e por aí fora.
Pergunto: não vos parece que o maior obstáculo ao dinamismo da negociação coletiva é o de que, de facto,
ela não concretiza o conceito constitucional do direito à contratação coletiva? Ou seja, não existe nenhum
mecanismo eficaz que assegure que meses e meses de negociação entre as partes e os resultados a que se
chegou sejam preservados. É ou não esse o fator mais importante, ou seja, a não concretização do conceito
constitucional do direito à contratação coletiva na negociação coletiva?
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, relembro que temos um acordo, aliás, temos vários acordos, no sentido
de não ultrapassarmos o dobro do tempo de que dispomos para pedir esclarecimentos, mesmo quando desconta
no tempo do grupo parlamentar. E mais do que 4 minutos já é um bocadinho excessivo.
Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Adão Silva, do PSD.
O Sr. Adão Silva (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Rita Rato, tenho o gosto de lhe
fazer duas perguntas sobre o que acabou de dizer há pouco.
V. Ex.ª começou a intervenção dizendo que a contratação coletiva não é verbo-de-encher.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — E vai daí…!
O Sr. Adão Silva (PSD): — Nós, nesta bancada, estamos de acordo.
Mas também lhe direi que não é uma flor de lapela que se põe e se tira de vez em quando, conforme as
circunstâncias e os interesses mais ou menos oportunos, no caso do PCP.
Vozes do PSD: — Muito bem!