5 DE MAIO DE 2017
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O Sr. Bruno Dias (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Mas, Srs. Deputados, as praças de jorna são de um tempo em que nós não
queremos que volte a acontecer. Nos tempos das praças de jorna, sabíamos quem é que estava do lado da
praça e quem é que estava do outro.
Assim como no passado, também no presente entendemos que não é possível ter novas praças de jorna
chamando-lhes outros nomes e fazendo, para isso, caducar a contratação coletiva para que as praças de jorna
de hoje retirem direitos aos trabalhadores.
Sr.ª Deputada Wanda Guimarães, é óbvio que a caducidade só serviu para uma coisa. A caducidade, ao
longo destes anos, só serviu o patronato. Nunca, em momento algum, fazer caducar direitos foi bom para os
trabalhadores. Nunca, em momento algum, impor cortes salariais, retirar direitos, retirar apoios sociais que foram
negociados livremente entre as partes se pode ter traduzido em benefício para os trabalhadores.
É muito óbvio para nós que o debate que hoje fazemos nada tem de extemporâneo. Retrógrado é continuar
a defender a caducidade da contratação coletiva. Atrasado é continuar a defender praças de jorna, como o PSD
e o CDS querem.
Entendemos que, mais do que nunca, é necessário repor o princípio do tratamento mais favorável ao
trabalhador e é fundamental revogar a caducidade na contratação coletiva.
Sr.ª Deputada Wanda Guimarães e Srs. Deputados Adão Silva e António Carlos Monteiro, para os
trabalhadores dos SAMS (Serviços de Assistência-Médico Social), para os trabalhadores da Petrogal, para os
trabalhadores têxteis e para os trabalhadores da hotelaria, a revogação da caducidade é de elementar de justiça.
Nada disto é extemporâneo, bem pelo contrário, é uma necessidade.
Srs. Deputados, da parte do PCP, não nos envergonhamos, pelo contrário muito nos orgulhamos, de estar
do lado dos trabalhadores e de dar voz aos trabalhadores. Que os senhores estejam a dar voz aos patrões esse
é um problema do PSD, do CDS e do PS relativamente a este debate.
Protestos do PSD e do CDS-PP.
O PCP entende que o debate que hoje fazemos é fundamental. Por isso mesmo, propomos a discussão de
duas matérias que são de elementar justiça: a defesa da reposição do princípio do tratamento mais favorável e
o fim da caducidade.
Cada um, PS, PSD e CDS, assumirá a sua parte neste combate. Da parte do PCP, sabemos de que lado
estamos. Cada um, com o seu sentido de voto relativamente a estes projetos de lei, assumirá as consequências
que daí advêm.
Os trabalhadores sabem que podem continuar a contar com o PCP e o PCP sabe que pode continuar a
contar com a luta, porque foi a luta que defendeu e construiu a contratação coletiva para lá destas quatro
paredes.
Este debate pode terminar aqui, mas continua lá fora, a partir dos locais de trabalho, na Petrogal, nas fábricas
têxteis, na hotelaria e em todos aqueles momentos em que se recusa o cumprimento dos direitos dos
trabalhadores, os quais os trabalhadores sabem que se trata de elementar dignidade, porque não há democracia
nem desenvolvimento do País sem os direitos dos trabalhadores.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para apresentar os projetos de lei do Bloco de Esquerda, tem a palavra a Sr.ª Deputada
Isabel Pires.
A Sr.ª IsabelPires (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: As alterações ao Código do Trabalho, nos
últimos anos, colocaram em causa a dimensão individual e coletiva dos direitos dos trabalhadores, tendo mesmo
posto em causa o exercício de direitos fundamentais consagrados na Constituição da República Portuguesa, como
o direito à contratação coletiva ou o princípio da igualdade, que está consagrado no artigo 13.º.
Nesse artigo 13.º pode ler-se que não se pode tratar de forma igual aquilo que, à partida, é desigual. Ora, é
exatamente isso que acontece nas relações laborais, que estão marcadas pela desigualdade entre as partes.