19 DE MAIO DE 2017
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O Sr. Presidente: — Sr. Deputado Pedro Delgado Alves, a Mesa regista a inscrição de três Srs. Deputados
para pedir esclarecimentos, um do Bloco de Esquerda, outro do PSD e outro do PCP. Como pretende
responder?
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Responderei em conjunto, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado José Manuel Pureza, do
Bloco de Esquerda.
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado Pedro Delgado
Alves, quero cumprimentá-lo pela intervenção que acabou de fazer e por nos ter lembrado esse marco histórico
que é termos hoje a vigência do texto constitucional de 1976 para lá daquilo que foi a vigência da Constituição
do Estado Novo.
Ontem mesmo, no debate travado neste Parlamento, um Deputado, membro de um partido político da direita
parlamentar, dizia que temos um problema com a Constituição.
Na verdade, o que eu queria dizer é que temos na Constituição uma exigência, que é a de que assumamos
por inteiro que a Constituição é simultaneamente um estatuto e um programa para a nossa democracia. Ela é
estatuto, porque contém um conjunto de regras que, passe a repetição, regulam de maneira imperativa aquilo
que tem de ser a nossa vida democrática. Regras como a inviolabilidade das comunicações ou como a tarefa
principal do Estado ser a de garantir a independência nacional e promover as condições para que isso assim
seja, mas também um programa de democracia completa — política, económica, social, cultural.
Por isso, que imenso caminho já fizemos na recuperação de rendimentos, na recuperação de direitos! Não
me chegariam os dedos das duas mãos para encontrar declarações de inconstitucionalidade durante o mandato
do Governo do PSD e do CDS, sob a autoridade da troica. Ainda bem que esse caminho foi arrepiado!
A verdade, Sr. Deputado Pedro Delgado Alves, é que este programa está sempre por cumprir. Olhamos para
a habitação e vemos os despejos que estão a ser feitos na Amadora ou na Mouraria. Olhamos para a educação
e vemos como é necessário reduzir o número de alunos por turma e instaurar a democracia nas escolas.
Olhamos para a segurança social e vemos como é preciso subir pensões. Olhamos para a saúde e vemos como
é necessário haver um médico de família para cada cidadão ou cidadã. E, sobretudo — sobre isso que gostaria
de o questionar —, encontramos barreiras que são de grande dimensão e de enorme gravidade ao cumprimento
do programa constitucional.
Na verdade, estas tarefas que estão diante de nós dificilmente serão cumpridas se tivermos de ficar
amarrados ao cumprimento de exigências totalmente absurdas em matéria de défice estrutural ou das chamadas
«regras europeias».
Por isso, Sr. Deputado, este imperativo de uma austeridade sem fim que é imposto a Portugal no quadro da
sua pertença à União Económica e Monetária é algo que não pode deixar de ser refletido quando falamos sobre
a vigência da Constituição.
O Sr. Presidente: — Tem de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Termino, Sr. Presidente.
Saudando-o, uma vez mais, pela intervenção que fez, a pergunta que queria deixar é justamente a de saber
se verdadeiramente Lei Fundamental é a nossa Constituição ou se é algo que a supera.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Hugo Soares, do PSD.
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, queria cumprimentar, em nome
do Grupo Parlamentar do PSD, o Sr. Deputado Pedro Delgado Alves pela declaração política e pelo tema que
trouxe hoje à Câmara e associar-me a ele na celebração da efeméride que registou.