I SÉRIE — NÚMERO 89
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O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Indo ao encontro de duas das questões colocadas pelos Srs. Deputados
Jorge Machado e José Manuel Pureza, entendo que, acima de tudo, a Constituição é também um desafio para
estarmos permanentemente insatisfeitos.
E, de facto, estamos insatisfeitos. Ao mesmo tempo que estamos satisfeitos e nos regozijamos com os
resultados absolutamente avassaladores do que conseguimos ao nível da proteção social, da educação, do que
era este País em 1974 e do que hoje é graças ao que a Constituição obrigou a que passasse a ser, devemos
continuar a ter um sentimento de permanente insatisfação. Por isso também a Constituição deve ser um desafio
permanente para que nos mobilizemos e alteremos o estado das coisas. Não é só um texto de partida, como
também tem de ser a meta, tem de ser a chegada que devemos procurar almejar.
É nesse sentido que se complicam as coisas, porque os recursos para o podermos fazer são, de facto, um
fator que deve estar em primeiro lugar na equação.
O Sr. Deputado José Manuel Pureza colocou uma questão bastante pertinente, sobre qual deve ser o papel
da nossa integração europeia neste mesmo processo. Permita-me que — se calhar, agora discordando, para
que as discordâncias não sejam só partilhadas com um dos lados do Parlamento — o recorde que a Europa faz
parte do texto constitucional e o nosso compromisso com o projeto europeu está inscrito na Constituição. Não
significa isto que o aceitemos acriticamente, nem que tenhamos de aceitar aquilo que nos é imposto ou aquilo
que nos procuram impor quando isso contradiz o espírito que procuramos realizar, que é o da Constituição. Mas
essa deve ser, de facto, a forma de combinação que, penso, a atual maioria parlamentar tenta, com o que lhe é
possível, realizar no plano nacional, demonstrando que conseguimos aprofundar a proteção dos direitos sociais,
devolver dignidade aos trabalhadores, devolver dignidade e rendimento às famílias e, simultaneamente, procurar
cumprir as nossas obrigações com os nossos parceiros europeus e, mais do que isso, modificar a forma como
os nossos parceiros europeus encaram essas mesmas obrigações, contaminando-os com o espírito da
Constituição de Abril e contaminando-os também com o tal patriotismo constitucional, que faz falta na Europa e
que, felizmente, temos a capacidade de mobilizar entre nós.
Agora, se me permite, Sr. Deputado Hugo Soares, dar-lhe-ia nota de duas coisas.
Se tem saudades do PS, e não querendo tornar isto romântico — já teremos Salvador Sobral amanhã no
Parlamento para assegurar a dimensão romântica —, também temos saudades do PSD.
Temos saudades do PSD que era social-democrata; temos saudades do PSD que colocava, efetivamente…
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — O PSD está aqui!
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Está aqui, mas está silenciado, Sr. Deputado. Não se afirma! Não tem
a voz que teve quando foi fundamental!
Aplausos do PS.
O texto constitucional que hoje temos foi evoluindo e, por isso, me atrevi a dizer que é hoje um texto
constitucional não apenas de alguns partidos mas de todos, porque o eixo de aprovação da Constituição ia do
PSD, passava pelo PS, passou pelo Partido Comunista Português e foi à UDP. Os eixos de revisão constitucional
já foram diferentes: incluíram o CDS, que também faz parte desta maioria constitucional, apesar de ter votado
contra a Constituição. Aliás, deixo esta nota: apesar de não haver uma intervenção, queria sublinhar que o CDS
faz tanto parte da atual maioria constitucional como todos os outros partidos que estão representados neste
Parlamento.
Agora, regressando ao Sr. Deputado Hugo Soares, o que nos faz falta é um PSD social-democrata, que
coloque prioridade na educação, que coloque prioridade na proteção social e que não se esconda atrás da ideia
de que a austeridade salvadora salvou o Estado social.
Aplausos do PS.
Protestos do Deputado do PSD Hugo Lopes Soares.