I SÉRIE — NÚMERO 98
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O Sr. Ministro da Saúde: — Não, não dizemos isso, Sr. Deputado!
Aplausos do PS.
Dizemos que, infelizmente, ainda está muita coisa mal e temos, de facto, condições, vontade e determinação
para que, até ao final da legislatura, seja incomparável o exercício destes quatro anos com os quatro anos de
VV. Ex.as.
Finalmente, para concluir, deixo uma nota sobre o terceiro d. Qual é o terceiro d, Sr.as e Srs. Deputados? É
o desespero. É o desespero porque, passado um ano e meio, a estabilidade política persiste, os partidos
entendem-se. Divergem naquilo em que têm de divergir mas convergem naquilo que é essencial. E é esta,
talvez, a maior nota de desespero para quem convoca um membro do Governo e os Secretários de Estado para
discutir políticas de saúde e discute lateralidades, não trazendo ao País uma única proposta que seja positiva,
construtiva, de recuperação do Serviço Nacional de Saúde.
Aplausos do PS.
Protestos do PSD.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Termina, assim, esta interpelação ao Governo. Despedimo-nos
dos membros do Governo aqui presentes.
Vamos agora entrar no período regimental de votações.
Antes de mais, vamos proceder à verificação do quórum, utilizando o sistema eletrónico. Os Srs. Deputados
que, por qualquer razão, não o puderem fazer terão de o sinalizar à Mesa e depois fazer registo presencial, para
que seja considerada a respetiva presença na reunião.
Pausa.
O quadro eletrónico regista 191 presenças, às quais se acrescentam cinco, dos Srs. Deputados Jorge Duarte
Costa e José Moura Soeiro, do BE, João Soares, do PS; Feliciano Barreiras Duarte, do PSD, e Telmo Correia,
do CDS-PP, perfazendo 196 Deputados, pelo que temos quórum para proceder às votações.
Começamos com o voto n.º 339/XIII (2.ª) — De pesar pelo falecimento de Alípio de Freitas (BE, PS, Os
Verdes e PAN), que vai ser lido pelo Sr. Secretário Moisés Ferreira.
O Sr. Secretário (Moisés Ferreira): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, o voto é do seguinte teor:
«‘Homem de grande firmeza’ — assim o cantou Zeca Afonso. E assim era Alípio de Freitas.
Nascido em Vinhais, em 1929, foi padre e foi jornalista, foi português e foi brasileiro e, mais que tudo, foi um
lutador de toda uma vida pela liberdade e pela emancipação do povo pobre.
Ordenado padre em 1952, escolheu viver com os mais pobres, primeiro com os camponeses da serra de
Montesinho e depois num subúrbio de São Luís do Maranhão, associando-se aos mais excluídos na criação de
uma paróquia, mas também de uma escola e de um posto médico.
Com uma coragem invulgar, enfrentou as oligarquias fundiárias do Nordeste brasileiro defendendo, com risco
da sua vida, os camponeses sem terra. Ajudou a fundar as Ligas Camponesas e foi ativista da luta pela terra.
Essa ousadia valeu-lhe um primeiro sequestro por um grupo paramilitar e detenção durante mais de um mês
à ordem do Exército. Com o golpe militar de 1964, e já na clandestinidade, criou o Partido Revolucionário dos
Trabalhadores. Em maio de 1970 foi preso e sujeito a intensa tortura. O seu comportamento firme e altivo na
prisão e na tortura tornou-se lendário. Recusou sempre prestar declarações e só a ampla campanha de
solidariedade internacional de que foi alvo — em que se incluiu a canção que lhe dedicou Zeca Afonso, no álbum
Com as Minhas Tamanquinhas, e diversas intervenções da diplomacia portuguesa — permitiu preservar a sua
vida. Haveria de denunciar os seus torturadores no livro Resistir é preciso, publicado após a sua libertação em
1979.
Após uma passagem por Moçambique, regressou a Portugal, tendo trabalhado na RTP até 1994. Foi coautor
de vários programas e membro da respetiva Comissão de Trabalhadores.