I SÉRIE — NÚMERO 104
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Terminando, o PCP continuará a contar para essa mudança e para construir uma floresta em Portugal ao
serviço do desenvolvimento sustentável das populações e do futuro do nosso País.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Srs. Deputados, terminadas as intervenções, vamos passar à
fase de encerramento desta interpelação ao Governo e a primeira intervenção é do Partido Ecologista «Os
Verdes».
Tem, então, a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados:
No final desta interpelação que Os Verdes agendaram, interessa, antes de mais, sublinhar não só a importância
da matéria abordada, mas também o reconhecimento unânime da relevância que a floresta e o mundo rural
representam para o nosso País.
Durante este debate ficou claro que os grandes problemas da floresta e do abandono do mundo rural
decorrem de opções políticas erradas, que, ao longo de décadas, foram cedendo aos interesses da grande
indústria das fileiras florestais.
A estas cedências é, ainda, necessário somar a extinção do corpo de guardas florestais, a liberalização do
eucalipto, o visível desinvestimento público na floresta, a desresponsabilização do Estado na gestão da floresta,
no ordenamento florestal, no combate à desertificação e ao abandono do mundo rural.
Acresce, ainda, os efeitos da aplicação da PAC, a destruição da pequena e média agricultura, o
desaparecimento de milhares e milhares de explorações familiares, o enfraquecimento das estruturas
descentralizadas do Ministério da Agricultura e o encerramento de serviços públicos que em muito contribuíram
para a desertificação e para o abandono do mundo rural.
Mas também ficou claro, neste debate, que é urgente olhar para a floresta como um setor estratégico e que
o reconhecimento do importante recurso económico que a floresta representa para o País não pode nem deve
ser incompatível com a defesa e a valorização das outras funções que a floresta desempenha.
Ficou claro que se impõe um verdadeiro ordenamento florestal que consiga contrariar as extensas
monoculturas, que garanta a limpeza da floresta e a plantação de novas áreas de floresta tradicional, que é
necessário valorizar a agricultura e a ocupação do espaço rural, que é urgente fazer renascer o corpo de guardas
florestais, integrado numa aposta no reforço das estruturas descentralizadas do Ministério da Agricultura, que é
necessário inverter a tendência para a florestação em monocultura contínua de espécies altamente comburentes
e de crescimento rápido, que é urgente promover o aumento do preço da madeira na produção, seja na mata
seja à entrada das fábricas e que se impõe travar a expansão da área de eucalipto.
Contudo, muita coisa ficou clara durante este debate: ficámos sem perceber o que leva o PSD a afirmar que
grande parte do território não tem eucalipto e que a maior parte da floresta portuguesa não é eucalipto, quando
os dados do Inventário Florestal Nacional de 2010 nos dizem que a área total de eucalipto conheceu um aumento
de 13%, entre 1995 e 2010, sendo a espécie que tem maior ocupação da área florestal no continente — 812
000 ha, sem contar com os efeitos da liberalização do eucalipto promovida pelo anterior Governo do PSD/CDS.
Também ficámos sem perceber por que é que o PSD afirma que o eucalipto é o que arde menos e onde o
fogo se apaga com mais facilidade, quando todos sabemos que o eucalipto é mais propício ao incêndio do que
qualquer outra espécie, fomenta a propagação dos incêndios para grandes distâncias, satura o meio ambiente,
empobrece os solos, seca as linhas de água e cresce sempre incompatibilizado com a restante biodiversidade
da floresta.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A floresta e o mundo rural que hoje temos não são tão-só o resultado
de opções políticas de vários governos mas também resultado da aplicação da Política Agrícola Comum (PAC).
De facto, a PAC acentuou e agravou substancialmente o abandono da nossa agricultura, a base de ocupação
e de vida do mundo rural, e sem agricultura deixa de haver motivos para a permanência das pessoas no mundo
rural e daí o abandono e o êxodo rural.
Os poucos que vão resistindo, normalmente pessoas já de idade, acabam por ficar à mercê das celuloses,
numa situação de verdadeira dependência, a quem cedem, ou a quem se veem obrigados a ceder as suas
propriedades a preços baixíssimos.