8 DE JULHO DE 2017
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O Sr. Deputado não tem uma palavra para dizer relativamente ao ataque que aqueles grupos terroristas
fizeram a instalações de saúde, a um hospital pediátrico, e à tentativa de assalto que fizeram a uma base militar
em Caracas?
O Sr. Deputado não tem uma única palavra para o linchamento de profissionais das forças e serviços de
segurança na Venezuela, na sequência de manifestações, supostamente, pacíficas, mas em que, afinal, os
manifestantes foram atirados contra a barreira policial que separava aquela manifestação de uma outra,
provocando os incidentes e linchando profissionais das forças e serviços de segurança?
Sr. Deputado Telmo Correia, o senhor pode fazer todas as afirmações que entender relativamente às
posições que entender assumir sobre os processos progressistas da América latina e em particular em relação
à Venezuela.
O Sr. Deputado tem todo o direito e todas as possibilidades de promover as afirmações que quiser
relativamente ao seu alinhamento com os Estados Unidos ou com qualquer outro país que não se conforma
com aqueles processos progressistas, mas, quando o Sr. Deputado faz afirmações como as que aqui fez hoje
no debate deste voto…
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, ultrapassou o seu tempo.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Concluo já, Sr. Presidente.
Como dizia, quando o Sr. Deputado Telmo Correia faz aqui afirmações como as que aqui fez hoje no debate
deste voto, branqueando a ação terrorista daqueles grupos armados, o Sr. Deputado está a assumir uma posição
de branqueamento e de solidariedade com grupos terroristas e isso tem de ser condenado neste Parlamento ou
em qualquer outro lugar.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Paulo Pisco.
O Sr. Paulo Pisco (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A Venezuela é hoje um país
desestruturado, arruinado.
Não faz qualquer sentido tentar desculpar um regime que tem deixado degradar as condições de vida do
povo venezuelano a um ponto de sofrimento e penúria que não têm qualquer justificação.
Não apenas há falta de tudo, de bens alimentares a cuidados de saúde, falta também, cada vez mais, a
esperança numa atitude razoável e dialogante por parte do Presidente do Governo que possa inverter a
acelerada queda no abismo, com consequências ainda piores para o atual estado de coisas, podendo
acrescentar caos, penúria e repressão ao caos, penúria e repressão que agora existe.
A ordem constitucional e os direitos e liberdades estão já totalmente espezinhados com a anulação de atos
cidadãos, detenções, o adiamento sine die de eleições e agora, até, uma inqualificável invasão do Parlamento
e a agressão a Deputados legitimamente eleitos.
O Parlamento foi destituído dos seus poderes para dar lugar a um Parlamento sem oposição. E no meio de
todo o sofrimento do povo venezuelano está o sofrimento da vasta comunidade portuguesa, um dos pilares
fundamentais do país, muito particularmente em termos económicos.
Os portugueses e descendentes dos portugueses amam a Venezuela e nada lhes custa mais do que terem
de abandonar o país. Têm esperança num regresso à normalidade económica, social e política e nós também,
para se poupar um país inteiro a um sofrimento sem fim.
Merece louvor — permitam-me que o diga aqui — o esforço do Governo português no sentido de apoiar,
tanto quanto possível, a nossa comunidade, numa situação tão complexa como aquela que se vive.
Os portugueses e seus descendentes, por serem um dos pilares económicos do país, por deterem muitos
estabelecimentos comerciais, são vítimas da penúria e das pilhagens, pilhagens, penúria e violência que se
tornaram o quotidiano da Venezuela. Mais de 90 mortos desde abril e milhares de feridos, aumento brutal da
criminalidade e da insegurança são o balanço trágico e sem justificação da situação descontrolada que o país
vive.