I SÉRIE — NÚMERO 5
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Aplausos do PS.
Protestos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Antes de passar ao Grupo Parlamentar do PCP, peço aos Srs. Deputados algum
silêncio.
Pausa.
Em nome do Grupo Parlamentar do PCP, tem agora a palavra o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa para
formular perguntas.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, queria também acompanhar a
saudação feita aos portugueses que participaram nas eleições para o poder local, particularmente pela forma
como decorreu a campanha eleitoral, num quadro geral de normalidade democrática.
A resposta à Sr.ª Deputada Assunção Cristas será dada, porque lembro-me sempre da fábula da rã que
queria ser boi.
Risos.
De qualquer forma, ficará para outro momento.
Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, passando hoje, precisamente, dois anos das eleições legislativas para
2015, importa sublinhar alguns elementos centrais que caracterizam a realidade e as necessidades do País.
Estes dois anos confirmaram a derrota da tese de que era necessário e inevitável o agravamento da
exploração e do empobrecimento do povo e do País e demonstram que, se há evolução económica, ela é
inseparável da reposição de rendimentos e direitos e que esse caminho deve continuar a ser desenvolvido e
aprofundado. Eis uma primeira questão que lhe coloco.
Mas a situação do País continua profundamente marcada pelas consequências duradouras de décadas de
política de direita, agravadas pelos PEC (Programas de Estabilidade e Crescimento), pelo pacto de agressão,
pela submissão externa, pelo crescente domínio monopolista da economia nacional. Mantêm-se os défices
estruturais há muito identificados nos planos produtivo, energético, científico, alimentar e demográfico, a
exigirem também respostas estruturais e não casuísticas.
Os avanços alcançados nestes dois anos não podem fazer esquecer os problemas estruturais do País que
continuam por resolver e a deixar de reclamar uma política alternativa, patriótica e de esquerda, que está longe
de ser concretizada.
O problema não é apenas de ritmo ou de intensidade, é de opções a fazer que correspondam aos interesses
dos trabalhadores e do povo, de enfrentar os constrangimentos externos e resolver os problemas do País.
Ao longo destes dois anos, o Governo e o PS foram recusando sucessivamente alterações à legislação
laboral em matéria decisiva para os trabalhadores e a realidade aí está para confirmar dramaticamente as
consequências dessa opção: é o ataque aos salários e a imposição da precariedade laboral, de que o processo
de transmissão de estabelecimento na PT/Altice é um exemplo gritante, com consequências dramáticas da
caducidade da contratação coletiva.
Mas é também a violência com que hoje os trabalhadores estão a ser atingidos nos seus horários de trabalho,
com imposições de trabalho por turnos, de trabalho aos sábados, de desregulação dos horários por via da
adaptabilidade e dos bancos de horas. Os exemplos recentes das lutas dos trabalhadores da PT/Altice, da
Autoeuropa ou da Somincor (Sociedade Mineira de Neves-Corvo, S.A.) revelam todos estes problemas.
Podemos dizer que sem a luta dos trabalhadores não há direitos que possam ser defendidos, mas não é
menos verdade que a opção política é um elemento de grande importância para a defesa dos direitos dos
trabalhadores.