I SÉRIE — NÚMERO 5
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A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, é talvez nesta questão da
definição de renda acessível que temos mais dificuldade em concordar, porque atribuir um valor 20% abaixo
não significa um resultado efetivo do princípio que o Sr. Primeiro-Ministro há pouco anunciou, que é a que os
cidadãos podem pagar.
Portanto, em determinadas zonas, designadamente na capital, o Sr. Primeiro-Ministro pode estar a criar uma
medida que não vai chegar ao que comummente se designa «classe média» ou às classes mais desfavorecidas,
porque os preços continuam bastante elevados.
De facto, esta é uma questão que merece ser discutida, porque às tantas corremos o risco de estar a criar
uma medida que, depois, não vai ter o resultado efetivo que gostaríamos que fosse prosseguido e que é
fundamental, que é o de atacar estes valores absolutamente especulativos do mercado e inacessíveis para as
pessoas. Torná-los acessíveis não pode ser só baixar 20%, não chega, Sr. Primeiro-Ministro, mas teremos,
certamente, oportunidade de o discutir.
Uma outra matéria que, muito rapidamente, Sr. Presidente, eu gostaria de perguntar ao Sr. Primeiro-Ministro
prende-se com a situação de seca extrema que Portugal está a atravessar neste momento. Estamos com um
problema gravíssimo em Portugal.
Sr. Primeiro-Ministro, não podemos criar planos e programas para serem fechados na gaveta. Existe, em
Portugal, há anos, o Programa Nacional para o Uso Eficiente da Água (PNUEA), que não está cumprido, e agora
estamos a deparar-nos com esta situação. Que medidas concretas, Sr. Primeiro-Ministro, está o Governo a
assumir para a concretização do PNUEA e também para a revisão da Convenção de Albufeira, para garantir
caudais mínimos ecológicos nos nossos rios internacionais?
Muito obrigada pela tolerância, Sr. Presidente.
Aplausos de Os Verdes e do PCP.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para responder, o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada, vou deter-me mais sobre a primeira parte do que
sobre a segunda. Peço desculpa.
Relativamente à primeira parte, enunciei a meta que temos a oito anos. A taxa de esforço das famílias com
a habitação em Portugal é muito superior à média europeia: em Portugal, é de 35% e a média europeia é de
27%.
Queremos convergir em oito anos para esta taxa de esforço com a habitação por parte das famílias e, para
isso, temos, efetivamente, de conjugar um conjunto de instrumentos: a oferta pública e também a mobilização
da oferta privada. E aqui combinamos três tipos de instrumentos: a oferta pública por parte do Estado, a oferta
pública por parte dos municípios e a criação de incentivos para que parte do património do stock privado seja
também alocado à renda acessível.
Aquilo que nos comprometemos a fazer é sermos complementares dos municípios e, portanto, em relação
ao património do Estado, adotaremos a mesma regra que o município adote para o seu próprio património.
No caso de Lisboa, o Presidente da Câmara tem dito que a renda acessível deve oscilar entre os 300 € e os
400 €, consoante o rendimento familiar. Nós adotaremos a mesma regra que a Câmara adotar.
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Vou já concluir, Sr. Presidente.
Se a regra no Porto for distinta, adotaremos, relativamente ao nosso próprio património, a regra adotada no
município do Porto, respeitando a descentralização e a confiança que temos de que quem gere o património
está em melhores condições do que o Estado central para definir o que é a renda acessível relativamente a cada
um dos mercados em concreto.
O Sr. Presidente: — Sr. Primeiro-Ministro, tem de concluir.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Vou já terminar, Sr. Presidente.