19 DE OUTUBRO DE 2017
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Em outubro de 2013, deu-se um colapso do sistema de decisão europeu por causa da crise dos refugiados. A
verdade é que, em outubro de 2013, não foi possível dar resposta a uma crise, que era uma crise humanitária e
que, muito rapidamente, se transformou também numa crise do próprio processo de decisão ao nível europeu.
Neste sentido, o que falhou foi a solidariedade, houve falta de solidariedade entre todos os Estados ao nível
europeu, criando uma divisão, que temos de denunciar como falsa, entre o Norte e o Sul, entre os cumpridores
e os incumpridores, entre os credores e os devedores.
Hoje, felizmente, no tema dos refugiados conseguimos avançar. Foi possível, por exemplo, com a
cooperação entre a União Europeia e a Turquia, reduzir, em cerca de 100 vezes, as travessias dos migrantes
que estavam a cruzar o Mar Egeu para se dirigirem à Grécia e à Itália. Ou seja, das cerca de 10 000 travessias
que se faziam por dia, verificam-se hoje cerca de 100.
Foi possível acabar praticamente com a rota do Mediterrâneo Oriental e também foi possível diminuir muito
os fluxos ilegais na rota do Mediterrâneo Central. Mas há ainda muito a fazer e não podemos deixar, de forma
alguma, de denunciar que, dos cerca de 160 000 migrantes que a União Europeia se comprometeu a acolher,
ainda não se conseguiu dar resposta a estas situações. Portugal fala com o à-vontade de quem tem sido um
País cumpridor, exemplar até, no acolhimento e na integração destas mesmas pessoas. E sabemos que um dos
desafios que temos pela frente é o de estabelecer parcerias de cooperação entre os países da União Europeia
e os países de origem ou os países de tráfico.
Neste sentido, queria perguntar-lhe, Sr. Primeiro-Ministro, o que é que o Governo português está a fazer,
relativamente a uma esfera muito relevante, a do Diálogo 5+5, que junta cinco países na margem norte do
Mediterrâneo e cinco países na margem sul do Mediterrâneo, e muitos destes países são de trânsito ou de
origem destes mesmos migrantes. Esta plataforma, na qual Portugal participa desde 1983, é fundamental, por
isso, gostávamos de saber o que é que o Governo português vai fazer relativamente à mesma.
O segundo tema é o da agenda digital. Felizmente, a Europa começou finalmente a acordar para este tema,
e, neste sentido, saudamos tudo o que está a ser feito pela atual presidência. Mas convém lembrar que, das 15
maiores companhias de base tecnológica do mundo, não há uma única que seja europeia e esta, porventura, é
uma das nossas maiores dificuldades.
Uma das propostas que vai ser discutida no próximo Conselho é uma proposta à qual Portugal aderiu, que
nasceu no Conselho ECOFIN, que é a de haver uma tributação específica relativamente a grandes «gigantes»
da indústria tecnológica. Sobre esta matéria, Sr. Primeiro-Ministro, queria fazer-lhe uma pergunta, não sem antes
dizer-lhe que o problema da Europa é não ter, neste momento, estes mesmos gigantes, mas certamente que se
há grandes companhias, seja na banca, seja nos serviços, seja na indústria, que estão a obter riqueza na Europa
é absolutamente justo que paguem impostos na Europa.
Gostava de saber qual é a posição do Governo português relativamente à utilização e à redistribuição desses
mesmos impostos. Onde é que vamos alocar esses impostos? Por exemplo, aos produtores de conteúdos que
estão diretamente a ser prejudicados por estas companhias? Era muito importante ter uma clarificação, do ponto
de vista do Governo português.
Para terminar, Sr. Primeiro-Ministro, passo a um outro tema, que também é muito relevante e que não está
a ser tratado da melhor forma: o da cooperação estruturada permanente na matéria da defesa. Já perguntámos
várias vezes ao Governo — aliás, até reunimos com o Governo no sentido de perceber qual é a posição do
Governo português — e, neste momento, a menos de um mês do final deste mesmo processo, que se iniciará
no próximo mês de novembro, no qual temos de ter uma posição, ainda não conhecemos a posição do Governo
português sobre esta matéria. Sabemos que há 21 Estados-membros da União Europeia que querem estar
nesta linha da frente, não sabemos se Portugal é, ou não, um destes Estados-membros e era fundamental
percebermos o que é o Governo português, neste momento, está a pensar sobre esta matéria.
Já agora, Sr. Primeiro-Ministro, quais são os mecanismos de avaliação desta mesma cooperação e que
pacote financeiro é que esta cooperação vai exigir ao Estado português? Neste sentido, temos também de nos
perguntar como é que esta cooperação vai, efetivamente, funcionar, porque estas matérias são muito
importantes. O Governo admite, de alguma forma, abdicar de uma ligação intergovernamental só feita ao nível
dos Estados ou admite transferir, de alguma forma, soberania para as instâncias comunitárias, a começar, por
exemplo, com a Comissão Europeia? A resposta a esta pergunta não é indiferente para este quadro, tal como
não é indiferente percebermos se o Governo admite, de alguma forma, abdicar da regra prevista nos tratados,