I SÉRIE — NÚMERO 10
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Tal regime, que é já de 2007, estabelece que a atribuição de licenças de utilização privativa dos recursos hídricos
públicos depende, por princípio, de procedimento concursal, sendo que tal licença não é geralmente renovada.
A alteração agora proposta visa salvaguardar determinadas situações, referindo a exposição de motivos
desta proposta de lei diretamente o caso especial do núcleo da Culatra, no sentido em que este — e cito o
preâmbulo da proposta — «constitui um aglomerado piscatório com raízes históricas e com evidências claras
de uma ocupação antiga e que detém um estatuto social, económico e cultural merecedor de reconhecimento e
valorização, confirmado pelos instrumentos de gestão territorial aplicáveis».
Assim, Sr. Ministro, com esta proposta, pretende o Governo a regularização da situação, com a emissão dos
necessários títulos de utilização dos recursos hídricos nas situações de primeira habitação e em núcleos
residenciais piscatórios consolidados que como tal sejam reconhecidos por portaria dos membros do Governo
responsáveis.
Esta proposta de lei pretende, ainda, que a emissão dos respetivos títulos de utilização privativa, no caso do
núcleo da Culatra, não esteja dependente de concurso e que seja consagrada a possibilidade da renovação das
licenças emitidas, garantindo, assim, a estabilidade mínima da ocupação e prevendo um máximo de 30 anos
para as ocupações permitidas, considerando a licença inicial e as respetivas renovações. Para além disso, é
instituído um período transitório, de modo a permitir a regularização das situações atualmente não-tituladas, com
isenção de aplicação de coima para os casos em que o requerimento com vista à obtenção do título de utilização
seja submetido nos seis meses posteriores à publicação da portaria que reconheça as ocupações em causa.
Ora, as temáticas relacionadas com a ria Formosa, nomeadamente no que respeita a ações para a sua
requalificação e valorização, têm sido, como todos sabemos, muitas vezes debatidas neste Parlamento,
nomeadamente dada a sua relevância social, cultural e económica.
Apesar disso, Sr. Ministro, queria dizer que o CDS entende que, por um lado, se se mostra necessária a
regularização e o enquadramento de situações que, de facto, devem ser regularizadas e salvaguardadas, como
é o caso das situações existentes na Culatra, por outro lado, e dado que a lei é geral e abstrata, ficaremos
atentos a abusos que possam resultar deste processo, no que se refere à preservação do património ambiental
e paisagístico, não só daquela região mas de todo o nosso País, de Portugal.
Aplausos do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, em nome do PCP, tem a palavra o Sr. Deputado
Paulo Sá.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, Sr. Ministro do Ambiente: O sistema lagunar da
ria Formosa reveste-se de grande importância do ponto de vista económico, social e cultural, estando
intimamente ligado à vida e às tradições das populações locais.
Sucessivos governos têm procurado expulsar as comunidades locais das ilhas-barreira da ria Formosa para
entregar este valioso património natural aos grandes interesses privados para que estes o explorem em seu
benefício.
O PCP rejeita este caminho e defende o reconhecimento dos núcleos populacionais das ilhas-barreira da ria
Formosa e a tradução desse reconhecimento nos diversos instrumentos de planeamento e ordenamento do
território. Aliás, o PCP apresentou, na Assembleia da República, em outubro de 2016, uma proposta nesse
sentido, a qual foi aprovada pela maioria dos Deputados.
Apesar desta aprovação, o Governo ainda não reconheceu a existência dos núcleos populacionais das ilhas-
barreira da ria Formosa, designadamente os do Farol, dos Hangares e da praia de Faro. Quanto ao núcleo da
Culatra, cujo reconhecimento já se encontrava consagrado no POOC Burgau-Vila Moura, o Governo avança
para a atribuição de títulos de ocupação do domínio público hídrico, mas apenas para uma parte das habitações
e por um período de tempo limitado, não resolvendo de forma definitiva o problema.
O PCP reafirma que é necessário encontrar uma solução definitiva para os núcleos populacionais das ilhas-
barreira da ria Formosa: é preciso reconhecer a existência desses núcleos e traduzir esse reconhecimento na
lei; é preciso aprovar projetos de intervenção e requalificação para todos os núcleos; é preciso concretizar esses
projetos, disponibilizando verbas para o efeito; é preciso apoiar as atividades económicas desenvolvidas na ria