I SÉRIE — NÚMERO 11
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Por outro lado, a promiscuidade entre a vida familiar e a vida profissional é de molde não só a ter reflexos
graves na saúde física e mental dos trabalhadores, como até a trazer distorções nestas duas áreas fundamentais
para o equilíbrio de qualquer ser humano.
Se é verdade — e esta é uma questão importante — que as mulheres têm um maior controlo sobre o seu
espaço e sobre o seu tempo, não é menos verdade que as relações familiares são severamente afetadas pela
ultrapassagem sistemática da dita «linha vermelha» e os jovens casais têm cada vez menos tempo e menos
espaço para desenvolverem uma saudável relação amorosa e familiar, com custos evidentes.
Por fim, temos todos, nesta Câmara, a obrigação de chegar a um consenso, em nome dos direitos mais
fundamentais da pessoa humana, não só dos trabalhadores, mas sublinhando que, sem direito a desligar,
estamos a privar-nos do que é essencial, que é a nossa humanidade.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para apresentar o projeto de resolução do PCP, tem a palavra a Sr.ª
Deputada Rita Rato.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: No nosso País, o principal problema relativo aos
horários de trabalho é o seu incumprimento e a desregulação.
Mais do que qualquer problema de vazio ou da necessidade de clarificação de limites dos tempos de trabalho,
o principal problema é o incumprimento desses limites por parte das entidades patronais.
O horário de trabalho, a sua fixação e cumprimento, o respeito pelos tempos de descanso, as respetivas
condições de pagamento e de compensação, a articulação com a vida familiar, pessoal e profissional, continuam
a ser dos mais graves ataques aos direitos dos trabalhadores que todos os dias são praticados nos locais de
trabalho.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — E isto acontece, Srs. Deputados, porque existe uma estratégia da parte do
patronato apoiada em sucessivas alterações à legislação laboral, ora promovidas por PS, ora promovidas por
PSD e por CDS, no sentido de fragilizar os direitos dos trabalhadores, impor o aumento do horário de trabalho,
a desregulação do horário de trabalho, através dos bancos de horas individuais e grupais, das adaptabilidades,
do prolongamento do horário de trabalho, entre outras matérias.
Não deixa de ser curioso que, sobre esta matéria, alguns venham agora reconhecer a gravidade que foi
decidir pelo fim do envio dos mapas de horários e de apólices de seguro dos trabalhadores à Autoridade para
as Condições do Trabalho (ACT).
O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — O anterior Governo do PSD e do CDS, em 2012, decidiu que a matéria dos
horários de trabalho e das apólices de seguros não devia interessar nada à ACT e, por isso, não era obrigatório
as entidades patronais enviarem os mapas à ACT, como se isto não tivesse importância nenhuma.
Hoje, alguns vêm dizer que esta matéria deve ser remetida para a concertação social. Não deve, Srs.
Deputados! Esta matéria deve ser decidida e deve ser fixada a reposição da obrigatoriedade de envio dos mapas
de horários e de apólices de seguros dos trabalhadores para a ACT,…
Aplausos do PCP.
… porque, se não, estamos a facilitar o incumprimento e a violação de direitos.
Mas, Srs. Deputados, estamos a discutir matérias que, em muitas intervenções, parecem não estar
consagradas na lei. Ora, os tempos de trabalho, os períodos de descanso, o trabalho suplementar, a isenção
de horário de trabalho estão previstos, definidos e tipificados na legislação nacional. E, na nossa opinião,
importava olhar com atenção para o parecer da CGTP sobre esta matéria que foi enviado para a Comissão de