I SÉRIE — NÚMERO 16
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com a outra. E também nessa altura, como agora, os partidos que o apoiaram usaram as mesmas justificações.
Por cada novo imposto que inventaram, lá veio uma consignação de receitas para uma finalidade
simultaneamente simpática e popular. Este ano, lá temos novamente a tentativa com o «imposto da batata frita»,
tentando com este truque básico iludir a realidade: por cada euro de riqueza que os portugueses criam com o
seu trabalho, o Estado fica com uma fatia maior.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Da batata, uma fatia maior da batata.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Também nas cativações, que a estratégia orçamental deste Governo
transformou em verdadeiros cortes pela calada, com a conivência, a cumplicidade e o voto do BE e do PCP, os
valores são recordes. São verdadeiras execuções retificativas. Para encontrar um valor semelhante é preciso
recuar a 2010.
São velhos hábitos! São hábitos que, infelizmente, o PS conhece muito bem e são péssimos hábitos.
Aliás, no que toca à capacidade de encobrir cortes, este Governo deu asas à sua criatividade. São os vetos
de gaveta, de que o adiamento da ampliação do bloco operatório central do IPO (Instituto Português de
Oncologia) de Lisboa é um exemplo tão triste quanto paradigmático, como são os pagamentos em atraso dos
hospitais EPE (entidades públicas empresariais). Só este ano os pagamentos em atraso, ou seja os calotes, dos
hospitais EPE passaram para quase 1000 milhões de euros, 961 milhões de euros. Praticamente duplicaram
desde o princípio do ano, pois são mais 46 milhões, em média, todos os meses. E o Sr. Ministro das Finanças
tem ainda o desplante de vir dizer aqui que vai fazer poupanças com os pagamentos?! Ó Sr. Ministro, não pagar
o que se deve não se chama poupar, chama-se fazer calotes, chama-se fazer dívidas.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. João Galamba (PS): — Dívida é calote, é tudo igual!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Só se esta política corresponde à tal reestruturação de dívida que o
Bloco de Esquerda veio aqui defender, se calhar é esta a reestruturação de dívida que pretendem.
A fatura destes atrasos, é claro, é paga pelos doentes e também pelos trabalhadores das empresas
fornecedoras, que, do vosso ponto de vista, não têm direito à reposição de rendimentos. Por coincidência, ou
talvez não, nem uns nem outros têm sindicatos ou corporações que os possam defender.
Já o investimento público, que dantes achavam tão importante, vital e crucial, foi a principal vítima dos cortes.
Em 2016, baixou quase 10%, estabelecendo um triste recorde e ficando abaixo do que tinha acontecido mesmo
nos momentos mais difíceis do período de ajustamento.
O Sr. Ministro, quando fala das diferenças entre o agora e esse tempo, esqueceu-se da mais importante:
felizmente, agora, Portugal deixou de ter um estatuto semelhante a um protetorado e passou a poder decidir
com liberdade o seu futuro. É uma conquista de Portugal, dos portugueses e é, sobretudo, a libertação do legado
deixado por muitos dos que hoje partilham o Governo consigo e, já agora, também por alguns dos que se sentam
na bancada do PS a apoiá-lo.
Aplausos do CDS-PP e Deputados do PSD.
Em 2017, o Orçamento do Estado previa um crescimento de 27% do investimento público, mas o Governo
já corrigiu esta previsão para metade e os últimos dados apontam para um crescimento de cerca de um terço.
Creio que até os mais ousados e os mais otimistas duvidarão da credibilidade da previsão do crescimento do
investimento público de 21%, agora apontada para 2018.
A tática é sempre a mesma: o Governo finge que não corta, o Bloco de Esquerda e o PCP fingem que não
veem; ou, melhor, ocasionalmente, esta última parte sofre uma leve alteração, o Bloco de Esquerda e o PCP
também fingem que estão surpreendidos ou muito surpreendidos. Mas todos sabem o óbvio, que esta é a
encenação de que dependem para continuarem a poder fingir dar quase tudo a quase todos.
Aplausos do CDS-PP.