7 DE DEZEMBRO DE 2017
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Sr. Primeiro-Ministro, temos, neste momento, face à posição do Governo, uma grande dificuldade, a de
perceber que, numa matéria como esta, o Governo não queira dar informação aos representantes legítimos do
povo português.
Posso até anunciar que o CDS vai apresentar uma alteração à lei de acompanhamento dos atos
comunitários, no sentido de institucionalizar que, pelo menos uma vez por ano, o Governo tenha de vir ao
Parlamento participar num debate específico sobre esta Cooperação, e que prévia e posteriormente a todos os
conselhos em que participem ministros da Defesa sobre esta matéria seja dada informação ao Parlamento,
porque estamos muito preocupados com a forma como o Governo até aqui liderou este processo.
Sr. Primeiro-Ministro, a pergunta concreta que lhe faço é esta: vai ou não vai cumprir a sua palavra enviando
ao Parlamento o Plano Nacional de Implementação da CEP?
Aplausos do CDS-PP e do Deputado do PSD Miguel Morgado.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Paula Santos.
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, Sr.
Primeiro-Ministro: Acerca do próximo Conselho Europeu, é fundamental que se abordem as questões relativas
à Cooperação Estruturada Permanente e ao Pilar Europeu dos Direitos Sociais mas, obviamente, também
queremos fazer aqui o enquadramento da eleição de Mário Centeno para Presidente do Eurogrupo.
Rejeitamos a participação de Portugal na Cooperação Estruturada Permanente. Assumimos esta posição
por considerarmos que a Cooperação Estruturada Permanente significa um passo qualitativo e quantitativo na
militarização da União Europeia, um dos pilares da sua conceção e natureza.
Assumimos esta posição contrariamente ao que fazem PSD e CDS, que procuram ensaiar falsas
divergências de forma a disfarçar que estão de acordo com a posição do PS e do Governo, com os objetivos e
a participação de Portugal na Cooperação Estruturada Permanente.
Discordamos da participação de Portugal na Cooperação Estruturada Permanente por corresponder à
constituição do Pilar Europeu da NATO, com a intenção de criar um exército comum da União Europeia, de
centralização de processos de decisão e comando e por se constituir como um bloco político político-militar
complementar ao da NATO, em oposição ao disposto do artigo 7.º da Constituição da República Portuguesa.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — A participação de Portugal na Cooperação Estruturada Permanente
representa ainda a perda de soberania, subalternizando os interesses nacionais aos interesses militaristas da
guerra, da agressão e pervertendo a missão das Forças Armadas portuguesas.
A criação da Cooperação Estruturada Permanente exige a assunção de compromissos de aumento do
orçamento na área da defesa, por exemplo em detrimento da coesão já deficitária.
Perante as inúmeras assimetrias entre os vários Estados-membros, com tendência para se agravarem,
perante os problemas com que os povos estão confrontados, o desemprego, a desvalorização do trabalho e os
baixos salários, as desigualdades, a pobreza e a exclusão, a opção passa pelo aprofundamento dos pilares da
constituição da União Europeia — o federalismo, o neoliberalismo e o militarismo —, ao invés de canalizar os
recursos para a coesão, para o combate às desigualdades e à pobreza.
O Pilar Europeu dos Direitos Sociais anunciado como a iniciativa para reforçar a dimensão social da União
Europeia, assinado em Gotemburgo, não passa de uma enorme operação de propaganda para iludir os povos,
mantendo no fundamental e dando suporte aos pilares da governação económica que suportam a União
Económica e Monetária.
Das 20 medidas que constam do Pilar Europeu dos Direitos Sociais, não se vislumbra uma que vá no sentido
do aumento dos salários, do combate à precariedade, da efetiva defesa da contratação coletiva, nem da justa
redistribuição da riqueza. É um embuste ao qual o Governo e o País não deveriam estar associados. O seu
único objetivo é legitimar as opções políticas impostas pela União Europeia de ataque aos direitos laborais e
sociais, responsáveis pela exploração e o empobrecimento dos trabalhadores e dos povos e que já
demonstraram que não são solução.