I SÉRIE — NÚMERO 28
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rega na agricultura ou em jardins, da limpeza urbana, da lavagem de viaturas ou de contentores do lixo, afigura-
se como vital que constitua uma prioridade de investimento, e elemento essencial do Plano de Prevenção,
Monitorização e Contingência para Situações de Seca, a aposta na reutilização de águas tratadas nas regiões
geográficas que apresentem maior escassez de recursos hídricos.
Mas em Portugal já existem bons sinais de que tais metas de reutilização não só são alcançáveis como
ultrapassáveis. A título de exemplo, a Águas do Algarve já reutiliza 3,5% de águas residuais tratadas,
ultrapassando largamente a média nacional. Ainda assim, é insuficiente face às necessidades.
Assim, e para que mais regiões possam garantir a sua resiliência hídrica, consideramos vital que se adotem
medidas que aumentem a reutilização de águas residuais das estações de tratamento, com vista ao
cumprimento do Plano de Prevenção, Monitorização e Contingência para Situações de Seca e à adaptação às
alterações climáticas, nomeadamente em aplicações não potáveis, como as agrícolas.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, em nome do Grupo Parlamentar do Partido
Socialista, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro do Carmo.
O Sr. Pedro do Carmo (PS): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: O ano de 2017 é já o mais seco de sempre.
Os dados registados até agora confirmam que já é pior do que o ano de 2005. Porquê? Porque os anos de 2015,
de 2016 e de 2017 foram anos hidrológicos fracos. É um problema grave! É um problema transversal a vários
setores da economia, em particular a agricultura e o ambiente.
Naturalmente, este é um dos efeitos do aquecimento global, das alterações climáticas, que alguns parecem
não querer ver. A solução para o problema seria a chuva, mas, como isso não depende da nossa vontade, é
necessário intervir urgentemente para minimizar, a curto, a médio e a longo prazos, os graves prejuízos.
Pergunto, pois: o Governo ficou-se apenas pela fé, ficou apenas à espera que chovesse? Não! Para
minimizar esta situação, com graves prejuízos para os agricultores e todo o setor agrícola, o Governo criou já,
no ano de 2016, um conjunto de apoios para a abeberação animal — cerca de 15 milhões de euros —, com
quase 2000 candidaturas aprovadas para captação, distribuição e armazenamento de água nas explorações, o
que veio a evitar aquilo que, neste momento, se isso não tivesse sido criado, seria um flagelo.
É preciso dizer que ainda há outros apoios, nomeadamente a autorização de pastoreio nas áreas de pousio
e a autorização do adiantamento das ajudas comunitárias para fazer face a necessidades urgentes de tesouraria.
Mais: para a alimentação animal, o Governo criou uma linha de crédito de 5 milhões de euros, com um valor fixo
por cabeça, e também teve aqui em consideração 5 € por colmeia; executou o plano de prevenção e
monitorização da seca e tem trazido uma confiança aos autarcas, aos agricultores, à sociedade em geral, uma
vez que, mensalmente, discutem e articulam soluções. Ainda ontem, numa visita da Comissão de Ambiente,
com a presença do Sr. Secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins, tivemos oportunidade de ver o quanto
se acompanha esta situação.
Mas, muito mais do que isso, o plano nacional de regadios, que foi permitido continuar a fazer graças à
solução expedita do Ministério da Agricultura com o Plano Juncker, que permite 260 milhões de investimento,
possibilitará que Alqueva, que está a cerca de 70% da sua capacidade, se ligue a outras albufeiras.
Mas também é preciso dizer que houve quem se esquecesse de Alqueva e de que Alqueva podia ser um
flagelo. É preciso dizer que se esqueceram de que o sistema de bombagem que Alqueva tem a funcionar neste
momento tinha de ter bombas de substituição, porque se aquelas falhassem isso seria um flagelo para as
culturas de regadio. Isto já foi autorizado e, por isso, está para visto do Tribunal de Contas um concurso de 13
milhões de euros que visa resolver esta situação.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Pedro do Carmo (PS): — Ainda ontem, presenciámos que a remodelação dos canais na bacia do
Sado — um investimento de 40 milhões de euros — vai evitar perdas de 40%.
Srs. Deputados, pergunta-se: todas estas medidas chegam? Não, não chegam! É preciso mais? É, é preciso
mais, mas, principalmente, o que é necessário é uma nova política para o uso eficiente da água, em especial,
na agricultura, e isto depende de todos.