23 DE FEVEREIRO DE 2018
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Para além de se debruçar sobre matéria nutricional e de origem dos alimentos, um comité eco-agroalimentar
deve deter-se também em todo o processo produtivo, distributivo e de consumo da cadeia alimentar.
Este organismo deve também aprofundar e dar a conhecer aos consumidores os impactos ambientais e na
vida dos animais que decorrem da produção de alimentos.
Como exemplo, quando se estuda e se sustentam cientificamente as supostas ou falaciosas qualidades
nutricionais do leite, não deve o Estado procurar esconder as verdadeiras formas de produção deste alimento.
Devem informar-se as pessoas sobre a desumanidade desta indústria que separa as vacas leiteiras dos seus
filhos nas primeiras horas de vida. A atual forma de produção industrial de leite é eticamente reprovável, mas o
Estado continua a negá-lo e continua a querer escondê-lo.
Mas deve também ser transparente com os consumidores e informá-los de que a produção de leite tem
impactos ao nível da contaminação de solos, da poluição de aquíferos e que contribui enormemente para a
emissão de gases com efeito de estufa.
A nossa proposta visa garantir que todos os bens alimentares tenham uma análise criteriosa e
multidisciplinar, ou seja, que não só sejam tomadas em consideração as características nutricionais de cada
produto alimentar, mas também o seu impacto nos ecossistemas, na vida e no bem-estar dos animais. Os custos
ambientais não devem ser externalizados e os interesses básicos dos animais na indústria alimentar não podem
continuar a ser renegados para último plano.
Propomos, assim, Sr.as e Srs. Deputados, que este comité eco-agroalimentar seja dotado de uma visão
holística e integrada e que inclua também na sua composição a Academia e organizações de defesa do ambiente
e de proteção animal.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro do Carmo,
do Partido Socialista.
O Sr. Pedro do Carmo (PS): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Os projetos de resolução hoje apresentados
fazem referência ao setor agroalimentar, setor este constituído por mais de 10 000 empresas, com um volume
de negócios superior a 14 000 milhões de euros, que emprega mais de 100 000 trabalhadores, que representou
11% do total da economia portuguesa em 2016.
Por tudo isto, e muito mais, este setor deve ser acompanhado de perto pelo Governo e considerado
fundamental para a nossa economia.
O Sr. João Azevedo Castro (PS): — Muito bem!
O Sr. Pedro do Carmo (PS): — O que é um facto é que, à falta de melhores ideias, pode sempre fazer-se
um projeto de resolução sobre um tema que cai bem, e o agroalimentar cai bem! Junta-se um pouco de ciência
e de investigação, adicionam-se bons hábitos alimentares, fruto de uma alimentação saudável, não esquecendo
os produtos locais e a pequena agricultura, tudo isto credibilizado com convites a nutricionistas, médicos,
professores, investigadores, e cria-se um comité científico.
Mas será que isto resolve? Será que é disto que o setor precisa? Não, Srs. Deputados, isto é demagogia,
isto é querer agradar a todos, isto é fazer o que já está feito, é criar mais um organismo que vai criar mais
informação.
O que parece é que os Srs. Deputados têm andado distraídos, porque têm sido criados métodos,
metodologias e organismos que visam responder ao que hoje é solicitado.
O Governo, reconhecendo o papel da investigação e da inovação no setor agroalimentar, tem assumido um
papel ativo no âmbito da Agenda Estratégica de Investigação e Inovação Agroalimentar, Florestas e
Biodiversidade. Tem sido desenvolvida investigação. A Agenda tem em conta as estratégias dos vários
ministérios e das várias políticas e metodologias apresentadas e tem os seus objetivos nas redes de investigação
recentemente criadas. Exemplos disso são a rede de cooperação científica e tecnológica para a experimentação
agrícola no Alentejo, a AGROnet, e o programa PRIMA, que é um programa da Comissão Europeia e é comum
aos Estados-membros, centrado nas temáticas dos sistemas alimentares e dos recursos hídricos.
Em suma, o que VV. Ex.as propõem hoje é desnecessário neste momento. O que o setor precisa é que o
Governo continue a apoiar e a potenciar a capacidade inovadora das empresas, que continue a investir na