I SÉRIE — NÚMERO 51
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O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
O Sr. Heitor Sousa (BE): — Em 2016, a distribuição de dividendos colocou em causa as reservas da
empresa, tendo sido distribuídos 70 milhões de euros aos acionistas, mais 8 milhões do que os próprios lucros
apurados.
Esta sucessão de decisões de gestão, que configuram um processo de descapitalização dos CTT,
materializou-se também na alienação de ativos, nomeadamente edifícios de grande valor: 25 milhões de euros
com a venda do antigo edifício-sede, em Lisboa, que irão parar aos bolsos dos acionistas.
Os CTT davam lucro antes da privatização, continuam a dar, mas a ganância dos acionistas privados está a
destruí-los. Na esfera pública, os CTT continuarão a ser lucrativos e capazes de assegurar um serviço público
fundamental e a presença do Estado em todo o território nacional.
Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O BE defende, aqui e agora, que o Governo deve fazer aquilo que
está previsto no próprio contrato de concessão, ou seja, uma notificação por incumprimento grave, o que lhe
permite iniciar o processo de rescisão da concessão, sem necessidade de qualquer indemnização ao
concessionário e com reversão para o Estado de todos os meios afetos ao serviço postal, incluindo o seu
património e os trabalhadores. Sublinho o que está no próprio contrato de concessão: reversão para o Estado
de todos os meios afetos à rede postal dos correios, incluindo o seu património e os trabalhadores.
Esta decisão é urgente, porque os CTT estão a ser drenados nos seus recursos logísticos, humanos e
financeiros. Se a privatização foi um erro com custos altos demais, assistir agora à destruição dos CTT não é
uma opção.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
O Sr. Heitor Sousa (BE): — O Governo deve recuperar os CTT para a esfera pública o mais depressa
possível.
A greve de amanhã, que saudamos e à qual prestamos total solidariedade, é mais um sinal que o Governo
não pode ignorar.
Portugal precisa de um serviço postal público que responda às populações e é por isso que recomendamos
que o Governo notifique de imediato a empresa…
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — E a Mesa recomenda que o Sr. Deputado conclua.
O Sr. Heitor Sousa (BE): — … de incumprimento grave do contrato de concessão do serviço postal universal
e, através da sua rescisão, recupere os CTT para a esfera pública.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para apresentar a iniciativa legislativa de Os Verdes, tem a palavra a
Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Julgo que todos aqui dirão
— e isso ouve-se, designadamente, pelos discursos constantes relativos a esta matéria — que o serviço postal
é essencial. Mas é, depois, a política prática e opções que cada partido toma relativamente a esta matéria que
vai determinar se ele, de facto, é ou não essencial para os respetivos partidos e para as políticas que
prosseguem.
O Governo PSD/CDS tomou uma opção muito clara: terminar o processo de privatização dos CTT. Para o
efeito, tomou logo um conjunto de medidas que promoveram a degradação dos serviços e o desmantelamento
da empresa. O que importava era terminar este processo de privatização, e diga-se, de resto, que esta obsessão
com as privatizações por parte do PSD/CDS não se resumiu, única e exclusivamente, a estes serviços.