I SÉRIE — NÚMERO 64
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O Sr. João Vasconcelos (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Bloco de Esquerda apresenta
também um projeto de resolução, que recomenda ao Governo a identificação e a reparação de danos ambientais
decorrentes da atividade militar na ilha Terceira. É mais uma iniciativa legislativa que apresentamos na
Assembleia da República sobre uma temática muito grave e que exige, por parte dos responsáveis, uma solução
urgente, a par de muitas outras iniciativas similares que temos apresentado na Região Autónoma dos Açores.
Já ninguém pode esconder os factos e as evidências. Devido à presença das tropas norte-americanas na
Base das Lajes desde a da II Guerra Mundial, há contaminação de solos e aquíferos por hidrocarbonetos e
metais pesados tóxicos que estão a provocar graves danos à agricultura e à saúde dos açorianos,
particularmente aos habitantes da ilha Terceira.
A atividade militar estrangeira, ao serviço da NATO e dos senhores da guerra da América e da Europa, ao
longo de várias décadas e mesmo depois do fim da Guerra Fria está a provocar um preço muito pesado para os
Açores e para o País.
São já vários estudos científicos e relatórios que confirmam as evidências. O relatório do Laboratório Nacional
de Engenharia Civil entregue ao Governo, alegadamente confidencial, identifica focos de contaminação, por
chumbo, dos solos da Terceira e a forte possibilidade de, através do subsolo, a matéria contaminante vir a
espalhar-se até aos aquíferos, o que acarreta um elevado risco para a saúde pública, caso contamine pontos
de captação de água.
A contaminação por hidrocarbonetos e metais pesados na Praia da Vitória tem a ver com armazenamento,
derrames, negligência, vazamentos intencionais e aterros de combustíveis, aditivos de chumbo e outros nas
infraestruturas militares norte-americanas da Base das Lajes.
No citado relatório do LNEC, mais precisamente nas páginas 21, 22, 27 a 31 e 101, temos locais suspeitos
de contaminação, ou já contaminados, como os locais Cabrito Tank Area, Main Gate Area, South Tank Farm,
Fontainhas ou o Pico Celeiro, entre outros. Além de gasolina e diesel, há excesso de concentração de chumbo,
cobalto, cobre, bário, mercúrio e zinco.
Também o estudo hidrológico encomendado pelos norte-americanos a uma empresa alemã em 2005
confirma a existência de lamas químicas espalhadas desde os anos 80 e que poderão ter contaminado poços
localizados apenas a 600 m de distância.
Mais recentemente, um outro relatório encomendado pela USAFE, a Força Aérea Americana na Europa,
relaciona pela primeira vez a contaminação dos solos da Base das Lajes com o risco de cancro seis vezes
superior ao normal. Trata-se de um relatório escondido durante 12 anos e que, pelos vistos, era conhecido de
todos — governos regionais e governos da República. Então o governo PSD/CDS sabia disto e nada fez?! E o
governo do PS?! Idem, idem, aspas, aspas?! Uma vergonha inadmissível!
Ontem mesmo, tivemos conhecimento de um outro relatório produzido pelas autoridades americanas da Base
a que um órgão de informação teve acesso e que revela a contaminação da água para consumo humano na
ilha Terceira, neste caso na Base das Lajes. Como se isto não bastasse, temos a possível contaminação
radioativa de diversas zonas dos concelhos de Praia da Vitória e Angra do Heroísmo, de acordo com vários
estudos independentes.
O projeto de resolução do Bloco de Esquerda recomenda ao Governo que proceda à identificação dos danos
ambientais, incluindo a contaminação conhecida e potencial do aquífero basal com origem nos tanques de
combustível e condutas abandonadas; a remoção dos solos contaminados com chumbo e a realização de
malhas de sondagem, descontaminação dos solos e inativação da captação de água a jusante e tratamento por
nano-filtragem e osmose inversa; o estudo radiológico para identificação de partículas alfa, raio-x e gama à
superfície do solo e em áreas não intervencionadas, condicionando o uso do solo caso se verifiquem parâmetros
fora do normal.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Peço-lhe que termine, Sr. Deputado.
O Sr. João Vasconcelos (BE): — Termino, Sr. Presidente.
Recomenda também o estudo do impacto ambiental na saúde pública e a adoção de estratégias adequadas
a nível da saúde, com medidas de proteção individuais e coletivas de apoio às populações, acompanhadas pelo
LNEC e pelo Instituto Ricardo Jorge e, finalmente, que os Estados Unidos da América, como agentes poluidores,