29 DE MARÇO DE 2018
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O Sr. Filipe Neto Brandão (PS): — Não!
O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Aquilo que dissemos foi que faltaram meios, faltaram aviões, faltaram
bombeiros, reduziram os meios, alteraram tudo, descoordenaram o trabalho de toda a conduta operacional
daqueles bombeiros.
Aplausos do PSD.
Por isso, Sr. Deputado, da sua pergunta nada aparece a contestar aquilo que foi dito e aquilo que devemos
assumir é que, de facto, o Governo não se portou bem naquilo que diz respeito aos incêndios de Pedrógão e
aos incêndios de 15 e 16 de outubro.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Carlos
Matias.
O Sr. Carlos Matias (BE): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados:
Os incêndios de 2017 foram uma catástrofe sem precedentes. A morte de 113 pessoas foi a sua dimensão mais
trágica. Agora é preciso recuperar o que for humanamente possível e tirar lições. O Relatório da CTI que hoje
aqui analisamos representa um valioso contributo nesse sentido. Por isso, saudamos todos os que para ele
contribuíram e não vou falar de casos avulsos que certamente cairão muito bem na retórica parlamentar mas
que, na verdade, têm menor relevância política.
O Sr. Pedro Soares (BE): — Muito bem!
O Sr. Carlos Matias (BE): — Uma abordagem séria não pode ignorar a excecionalidade das condições
meteorológicas do verão passado, mas também sabemos que as alterações climáticas levarão a que idênticas
circunstâncias venham, provavelmente, a ocorrer no futuro.
A reconstrução vai ser muito longa, a exigir transformações estruturais profundas. Estamos em áreas, e cito,
«onde a floresta necessita de ajustamentos estruturais que não se compaginam com mudanças pontuais e
transitórias, que conduzem apenas a impactos a curto prazo», diz o Relatório, adiantando ainda que: «Estamos
perante um território imenso, massacrado nos últimos decénios pelo despovoamento, pelo envelhecimento da
população, pela ausência de gestão florestal e pelo esvaziamento de atividades económicas, num quadro de
paulatina concentração que conduziu à atual situação de características macrocéfalas e reconhecidamente
insustentáveis». O Bloco de Esquerda assina por baixo.
Contudo, o documento não deixa de chamar à atenção para a falência, para a não concretização ou para as
insuficiências de variadas disposições legais, visando a prevenção estrutural contra incêndios. Recordo, apenas
como exemplo, as falhas da legislação aplicável aos parques industriais e às áreas de interface entre as áreas
urbanizadas e a floresta.
Tenhamos presentes as críticas a várias disposições da Lei n.º 76/2017, à partida sem suporte técnico que
as justifiquem ou de validade não comprovada nas circunstâncias extremas em que foram testadas.
Trata-se, no seu conjunto, de uma lista de críticas e sugestões, a exigir mais e melhor trabalho legislativo,
também desta Casa, um reporte que devemos todos ponderar com sentido de responsabilidade.
Os incêndios de outubro varreram vastíssimas áreas florestais de pequena e pequeníssima propriedade.
Em todo o ano de 2017, 90% da floresta ardida era de pinheiro bravo e de eucalipto. Se nos limitarmos aos
incêndios de outubro, a proporção não é tão elevada, mas, ainda assim, com predominância acentuada destas
duas espécies.
O Relatório salienta que o fogo devorou largas manchas contínuas, monoespécie ou de povoamentos mistos
de pinheiro e eucalipto, e explica como a configuração das copas torna estas espécies mais propagadoras dos
incêndios, desmontando o mito, tantas vezes aqui repetido, de que as árvores ardem todas da mesma maneira.