I SÉRIE — NÚMERO 65
22
Estado para a floresta, a agricultura e o mundo rural, que se traduzem em inevitáveis assimetrias regionais. São
assimetrias que são, de facto, inseparáveis das opções políticas de sucessivos governos do despovoamento —
do PS, do PSD e do CDS. Sim, os partidos do despovoamento do mundo rural, que, com uma postura e um
discurso manipulador,…
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Muito bem!
O Sr. João Dias (PCP): — … fingem hoje preocupar-se com as desigualdades territoriais, contudo fugindo à
análise das suas causas, disfarçando as suas responsabilidades, por força das suas opções e da sua política.
Os partidos do despovoamento são os responsáveis pelas consequências da PAC; pelo desmantelamento
do Ministério da Agricultura; pelas políticas de encerramento de escolas e de unidades de saúde; pelo
encerramento de postos e estações dos CTT; pelo fecho de delegações da EDP ou do Banco de Portugal, bem
como de agências bancárias; pelas dificuldades de acessibilidades no interior, particularmente com o
encerramento de centenas de quilómetros de linhas férreas; pelo encerramento de serviços públicos; pelas
políticas orçamentais restritivas a que o Pacto de Estabilidade obriga, produzindo Orçamentos do Estado que
aumentam as desigualdades.
Para o PCP, defender a floresta e o mundo rural, para lá da garantia do seu ordenamento e da aposta na
valorização da produção nacional e diversidade económica, melhorando os rendimentos para os proprietários,
exige emprego, serviços públicos, investimento público e preços justos à produção agrícola e florestal. Exige o
escoamento a preços justos da produção dos pequenos produtores; exige outra política agroflorestal; exige uma
PAC compatível com a agricultura familiar e o mundo rural do minifúndio; exige um efetivo desenvolvimento
regional com investimento na atividade agrícola e florestal.
Sem pessoas não é possível a gestão da floresta. É necessário criar emprego com direitos e defender as
atividades produtivas. É preciso romper com uma política que nos aprisiona no bem conhecido ciclo vicioso:
menos emprego, migração e emigração, envelhecimento, menos gente para trabalhar, menos consumo, menos
investimento, menos serviços públicos, menos atividade económica e, outra vez, menos emprego…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. João Dias (PCP): — … ao que podemos agora juntar os incêndios florestais.
Para pôr fim a este ciclo vicioso é preciso uma outra política e, logo, a rutura com as opções de PS, PSD e
CDS, que trouxeram o País a esta brutal e dramática situação.
O PCP sabe que dificilmente se porá fim ao flagelo dos incêndios na sua totalidade, contudo assumimos que
muito há a fazer, pois temos a certeza de que o País não está condenado a assistir a este flagelo ano após ano.
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, para uma intervenção, em nome do Grupo
Parlamentar do CDS-PP, a Sr.ª Deputada Patrícia Fonseca.
A Sr.ª Patrícia Fonseca (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Queria
começar por saudar o trabalho da Comissão Técnica Independente (CTI), que, de facto, foi um trabalho muito
valoroso, e queria aqui destacar duas conclusões do Sumário Executivo do Relatório. A primeira conclusão,
constante da página 13, é a de que, perante as condições meteorológicas, podia e devia ter-se antecipado e
prevenido o esperado; a segunda conclusão, que consta da página 15, é a de que a gestão do combustível no
sub-bosque, à escala da paisagem, é a única forma de limitar o desenvolvimento de megaincêndios. Aí se refere,
também, que são dúbios os resultados da criação e manutenção de faixas-tampão. Aliás, diz ainda o Relatório
que muitas das habitações que arderam não tinham qualquer envolvente florestal e outras só tinham agricultura
(página 187).
Refere também o Relatório que, em Portugal, o tipo de vegetação não influencia a dimensão dos fogos com
mais de 100 ha (página 62). Diz, aliás, que foi um erro crasso o Decreto-Lei n.º 10/2018 e que não tem qualquer
justificação técnica (página 189), como todos os especialistas criticaram e o CDS disse desde o início.