I SÉRIE — NÚMERO 73
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A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — E há duas perplexidades que o País tem e que merecem resposta.
A primeira delas é a seguinte: porque é que, na fila dos investimentos que aguardam disponibilidade, a banca
privada tem sempre prioridade sobre os serviços públicos? O que o País não pode aceitar é que seja tão fácil e
tão natural para o Governo gastar 792 milhões no Novo Banco quando é tão difícil conseguir 22 milhões para a
pediatria do hospital de S. João, por exemplo.
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Em segundo lugar, a outra perplexidade, independentemente do Novo
Banco, é esta: o que é que pode explicar a pressa do Governo em ir além das metas acordadas com Bruxelas
quando os serviços públicos estão, como o Governo reconhece — e bem! —, muito aquém da resposta
necessária a dar a este País?
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Catarina Martins, primeiro, entendamo-nos sobre
esse conceito «folga». O facto de o défice ser 18 milhões de euros inferior ao que estava previsto não significa
que temos mais 800 milhões de euros. Significa que nos faltam menos 800 milhões de euros, ou seja, que
necessitamos de nos endividar menos do que necessitaríamos de nos endividar. Não precisamos de nos
endividar em mais 800 milhões de euros para tapar o défice, não precisamos de aumentar a nossa dívida, mas
isso não é uma folga.
A folga que verdadeiramente existe é a de que, graças ao facto de devermos menos, de termos melhorado
a nossa credibilidade e de nos serem cobrados menos juros, entre aquilo que tínhamos previsto em outubro e o
que podemos prever hoje vamos poupar 74 milhões de euros nas despesas com juros. Isso é que, efetivamente,
é folga. É dinheiro que pensávamos que tínhamos de despender no pagamento da dívida mas que fica liberto
para podermos fazer outro investimento. E esses 74 milhões de euros reorientamo-los integralmente para
reforçar o investimento na saúde, na educação, na cultura, porque a nossa prioridade é mesmo a de aumentar
o investimento à custa da folga que efetivamente existe.
Agora, a folga não é o dinheiro que temos a menos, é o dinheiro que deixámos de ter de alocar ao serviço
da dívida e passámos a poder alocar ao investimento.
Relativamente à banca, convém dizer, primeiro, que esta verba de que agora se fala quanto ao Novo Banco
não é nova, é uma verba prevista, desde o início, no contrato de alienação do Novo Banco. Portanto, estes 700
milhões não somam ao limite dos 3800 milhões, são uma parte dessa componente que já estava prevista, isto
é, não são mais uma disponibilidade, são uma disponibilidade que já estava prevista.
Há algo de que temos de ter consciência: a estabilização do sistema financeiro foi dos trabalhos mais
meritórios que este Governo e esta maioria fizeram pelo País nos últimos dois anos e meio, porque foi
absolutamente essencial para podermos descer de uma taxa de juro que estava acima dos 4% para uma taxa
de juro que, neste momento, ronda os 1,6%.
O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Não! Estava a 1,5% e vocês subiram-na para 4%!
O Sr. Primeiro-Ministro: — E essa diminuição da taxa de juro é o que nos permite pegar nesses 74 milhões
de euros e reforçar o investimento,…
Aplausos da Deputada do PS Sónia Fertuzinhos.