I SÉRIE — NÚMERO 84
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contexto parlamentar, num contexto de um Estado de direito, é inaceitável, é grave e o PSD não o pode
acompanhar.
Mas, Sr.as e Srs. Deputados, o que acabámos de dizer não significa que o Partido Social Democrata não se
solidarize com todas as pessoas e com todas as famílias que estão em situação de fragilidade habitacional em
virtude das cessações daqueles contratos e que isso não mereça um olhar atento por parte dos poderes
públicos.
Protestos do Deputado do PCP António Filipe.
Contudo, Sr.as e Srs. Deputados, isso leva-nos a outra discussão, leva-nos à discussão de ontem. É o Estado
que tem de prover uma habitação condigna para todos e o Bloco de Esquerda deve usar as suas energias para
reivindicar do Estado, do Governo — do mesmo Governo que os senhores apoiam —, que promova o direito à
habitação para todos, em vez de, reiteradamente, exigirem que sejam os privados, os pequenos proprietários,
os agentes económicos a prover a política social que o Estado tem de fazer e não faz, com o que os senhores
convivem silenciosamente, apoiando o Governo.
Aplausos do PSD.
Protestos da Deputada do BE Maria Manuel Rola.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Rita Rato.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, de facto, o que não ajuda nada ao direito à
habitação é despejar pessoas, porque se estamos hoje a discutir esta matéria é porque há algo incontornável:
houve uma lei que foi elaborada pela mão da então Ministra, Assunção Cristas, que foi trazida ao Parlamento e
foi aprovada pelo PSD e pelo CDS. E o resultado está à vista.
O Sr. João Gonçalves Pereira (CDS-PP): — Não houve nem um despejo!|
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Infelizmente, a Fidelidade só fez uma coisa: aproveitou a prenda que a então
Ministra Cristas lhe tinha oferecido.
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Ora bem!
O Sr. João Gonçalves Pereira (CDS-PP): — E saiu-lhes a fava!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Agarrou nessa prenda e disse assim: «Ora, se temos mais de 1500 imóveis, como
é que os vamos transformar de um direito à habitação num negócio? Ora bem, vamos começar já por Santo
António dos Cavaleiros, onde existem três torres que permitem, de facto, rentabilizar um investimento», o que é
permitido ao grupo da Fidelidade depois de ter sido também privatizado por PSD e CDS.
Portanto, Srs. Deputados, estamos hoje a discutir uma situação que, em primeiro lugar, é da responsabilidade
do anterior Governo, do PSD e do CDS, quer quanto à privatização da Fidelidade, quer quanto à lei dos despejos.
Perante isto, só tínhamos duas coisas a fazer e o Parlamento fê-las!
No dia 13 de abril, foi votado um projeto de resolução do PCP, o qual foi aprovado com os votos contra —
também não nos surpreendemos! — do PSD e do CDS, que votaram contra coisas tão simples como isto:
«Desenvolva todas as diligências para assegurar a suspensão imediata da ameaça de despejos nas torres da
Fidelidade, em Santo António dos Cavaleiros e em todos os concelhos com processos idênticos, e garanta o
direito à habitação a estas famílias; crie uma comissão de acompanhamento deste processo, com
representantes do Governo, das autarquias e da Comissão de Moradores».
Isto é alguma coisa que impeça o PSD e o CDS de votar a favor? É! Porque torna muito evidente que, ao
invés de uma lei dos despejos, o PCP propõe o contrário, propõe uma lei do arrendamento. É exatamente o
contrário daquilo que os senhores fizeram!