30 DE MAIO DE 2018
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Várias dúvidas se colocam aqui, neste contexto da própria relevância do Conselho Nacional de Ética: se tal
Conselho existe — de resto, emana do Parlamento —, é porque a nossa democracia e demais instituições
definiram que a sua existência é valiosa. Faremos mal, perante a nossa História recente, em ignorá-lo
ostensivamente.
Em termos médicos, tanto o atual como os antigos bastonários da Ordem dos Médicos se pronunciaram,
conforme aqui já foi dito, e a própria Ordem dos Médicos tornou pública a sua posição negativa nesta matéria.
Ao isentarmos o Estado do seu papel de algoz e ao colocarmos este ónus na pessoa dos médicos, não
estamos nós a lavar as mãos? Não estamos nós, legisladores, enquanto sublinhamos a importância da vontade
individual, a colocar todo o peso desta decisão nas mãos de médicos, cuja deontologia não admite tal conflito?
Como ultrapassar o conflito ético dos médicos?!
Em termos jurídicos, a miríade de problemas é listada detalhadamente nos pareceres da Ordem dos
Advogados sobre as propostas dos projetos de lei e, em termos constitucionais, são conhecidas as dúvidas que
se colocam relativamente ao n.º 1 dos artigos 24.º e 25.º
Em termos políticos, muito se tem discutido na opinião pública sobre a oportunidade da votação neste
momento, numa Legislatura em que nenhum partido expressou as suas posições sobre a eutanásia nos
respetivos programas eleitorais.
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — É falso!
A Sr.ª Margarida Mano (PSD): — Dúvidas, dúvidas, muitas dúvidas que não podem deixar de inquietar
quem, de forma séria, pretende fazer o debate no Parlamento.
O PSD apresenta-se neste debate ciente da sua responsabilidade enquanto maior partido português, ciente
da importância da complexidade e da seriedade deste tema.
Não é por acaso que o PSD não toma uma posição contra nem apresenta uma proposta. Não o faz porque
não o propôs ao eleitorado, não tendo mandato para decidir pelos portugueses esta questão. O PSD não
precipitou este debate, mas não o enjeita.
O Grupo Parlamentar do PSD, nesta matéria, faz o que sempre terá feito ao longo da sua história em matérias
de consciência: entrega à consciência de cada Deputado, com as limitações e a legitimidade próprias, o seu
sentido de voto.
Como partido humanista e personalista que é, irá praticar nesta importante votação aquilo que é o respeito
pela liberdade de consciência de cada Deputado, sendo certo que votar em consciência não significa poder
seguir uma tendência pessoal mas, sim, proceder a uma ponderação dos interesses em jogo, em função de
princípios base da nossa República e de um bem comum que é servido pela democracia, nunca o contrário.
Votarei, por isso, em consciência e sem disciplina partidária de voto, num profundo respeito pelo voto
informado e avisado que todos os Deputados da Câmara irão exercer e esperando a compreensão dos eleitores
que, tendo votado em mim como sua representante, não se revejam no sentido do meu voto. Em consciência,
irei votar «não» às propostas apresentadas.
Faço-o com um profundo respeito pelo sofrimento das pessoas que poderiam agir diferentemente com a
aprovação desta legislação. Faço-o porque me orgulho de viver num Estado social de direito que não quero ver
mudado, onde o valor social que nos une e que nos justifica como legisladores se sobrepõe ao individual.
Orgulho-me de viver num Estado que tem como fim proteger e cuidar da vida. Acredito que somos todos
responsáveis por todos. É isso que carateriza uma sociedade justa e solidária. Demorou a que chegássemos
até este patamar, ainda em grande parte por cumprir.
Os valores da fraternidade e da solidariedade, como valores subjacentes a direitos transindividuais, devem
ser levados a sério.
Precisamos de respostas para todos, com os investimentos necessários, para que as alternativas que todos
conhecemos falem mais alto.
Passo a citar uma frase do Luís Archer: «Perante os novos poderes que a ciência dá ao homem sobre a vida
e sobre si próprio, é importante que o homem segure as rédeas do progresso e tome as decisões éticas que lhe
tornem possível plasmar um futuro autenticamente humano.»
Saibamos nós lutar, neste debate, e com a votação que vai seguir-se, por um futuro de esperança
autenticamente humano.