I SÉRIE — NÚMERO 96
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Alguns alimentam a ilusão de que basta fazer mais com menos, mas se queremos responder bem aos novos
desafios devemos começar por não sacrificar o que já provámos fazer bem, como a política de coesão e a
política agrícola comum (PAC). Além do mais, porque estas políticas, apesar de tradicionais e de serem marcas
identitárias da própria União, também contribuem para enfrentar os desafios do futuro. Por exemplo, a política
agrícola comum, além de assegurar a segurança alimentar, tem de dar um contributo acrescido para
enfrentarmos as alterações climáticas e a política de coesão tem de contribuir para a prevenção da radicalização
em várias periferias ou centros urbanos e tem de se centrar mais nas pessoas como um instrumento do pilar
social.
Aplausos do PS.
Reconhecemos que, graças a um trabalho conjunto com a Comissão Europeia, temos agora um novo ponto
de partida que constitui um progresso face ao documento inicial que foi apresentado. Contudo, carece ainda de
melhorias.
Em primeiro lugar, as taxas de cofinanciamento não devem ser alteradas, pois não faz sentido sobrecarregar
o Orçamento nacional quando prosseguimos um esforço de ajustamento tão exigente como o que temos vindo
a cumprir.
Em segundo lugar, para continuar o esforço de modernização bem-sucedido da nossa agricultura há que
prosseguir a redução do diferencial entre os 205 €/ha recebidos por Portugal, face aos 260 €/ha da média
europeia.
Aplausos do PS.
Em terceiro lugar, não podemos tratar de modo igual o que é desigual, aceitando um corte de 15% nos apoios
ao desenvolvimento rural, quando no caso específico de Portugal estes apoios constituem 50% do conjunto das
transferências no âmbito da PAC.
Em quarto lugar, o princípio da convergência tem de ter uma dimensão transversal a todas as políticas, não
podendo estar ausente, por exemplo, do programa Horizonte Europa ou do programa Defesa, que devem ter,
ainda que parcialmente e sem prejuízo da sua gestão centralizada e concorrencial, envelopes nacionais
indicativos.
Serão estes os princípios que defenderemos no Conselho Europeu, num esforço que deve prosseguir, num
consenso nacional alargado, como o que todos temos expresso quer internamente, quer nas diferentes
instituições europeias.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Governo tem sido claro no seu propósito de debater nesta
Assembleia da República as opções estratégicas que definirão as oportunidades do nosso País na próxima
década. Fizemo-lo quando trouxemos aqui a debate o Programa Nacional de Reformas. Fizemo-lo quando, no
início deste ano, apresentei nesta Assembleia os objetivos prioritários para o próximo Quadro Financeiro
Plurianual. Fizemo-lo, ontem mesmo, quando abrimos o debate público do Programa Nacional de Investimentos
2030, antecipando o ciclo de planeamento em função das perspetivas financeiras para 2021-2027.
Foi essa mesma convicção, de que as escolhas estratégicas devem merecer compromissos alargados, que
nos fez assumir, logo no Programa do Governo — e para romper com um passado em que as decisões de
investimento ficaram demasiado dependentes de ciclos políticos, com custos de atraso e de oportunidades
perdidas para o País —, que os programas de investimento infraestruturais de grande relevância deveriam ser
debatidos, apreciados e votados nesta Assembleia da República pela maioria mais ampla possível,
desejavelmente, por uma maioria de dois terços.
Assim, desejamos prosseguir um debate que garanta coerência estratégica, ampla participação e uma
decisão informada, atempada e estável para construirmos, em conjunto, o futuro de Portugal.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, vamos, agora, entrar na fase de debate.