7 DE JULHO DE 2018
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Por fim, atribui-se competência para a fiscalização da aplicação e do cumprimento do regime ora previsto à
CNPD, com algumas exclusões, das quais já dei exemplo, relativamente ao primeiro diploma.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Srs. Deputados, o Governo solicitou que, tratando-se de três
iniciativas legislativas respeitantes a matérias correlacionadas, mas distintas, houvesse apresentação por dois
dos seus membros: da Sr.ª Secretária de Estado Adjunta e da Justiça, que já apresentou as propostas de lei
n.os 125 e 126/XIII (3.ª), e, agora, da Sr.ª Secretária de Estado Adjunta e da Administração Interna, que
apresentará, julgo, a proposta de lei n.º 137/XIII (3.ª).
Sr.ª Secretária de Estado, dispõe de 1 minuto e 10 segundos. Pedia que fosse o mais breve possível.
Tem a palavra.
A Sr.ª Secretária de Estado Adjunta e da Administração Interna (Isabel Oneto): — Os meus cumprimentos
ao Sr. Presidente e à Mesa, bem como às Sr.as e aos Srs. Deputados.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: A proposta de lei n.º 137/XIII (3.ª), que aqui se apresenta, vem na sequência
de uma diretiva europeia, no sentido da criação de uma unidade de informação de passageiros para dados de
registo e de identificação de passageiros relativamente a determinados crimes de catálogo, nomeadamente
crimes de terrorismo e criminalidade grave. Neste momento, existe um conjunto de critérios para fazer a análise
e para poder verificar, em termos de prevenção criminal, face aos crimes de catálogo, esses dados, em termos
de transporte de passageiros da União Europeia e fora da União Europeia.
É de referir que a Comissão Nacional de Proteção de Dados é a entidade competente para a fiscalização do
cumprimento dos dados que são recolhidos pela presente proposta de lei e que, na sequência de ações de
prevenção criminal que tenham de ser desenvolvidas, terá de ser feita a comunicação às autoridades judiciárias,
nomeadamente ao Ministério Público ou a um juiz, sendo que as competentes investigações serão
desencadeadas pelo DCIAP (Departamento Central de Investigação e Ação Penal).
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Obrigado, Sr.ª Secretária de Estado, sobretudo pela contenção
da sua intervenção.
Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Manuel Pureza do Bloco de Esquerda, do Bloco
de Esquerda.
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Sr. Presidente, Sr.as Secretárias de Estado, Sr.as e Srs. Deputados: O
Governo apresenta-nos três propostas de lei. Não faremos nenhuma consideração especial sobre as propostas
de lei n.os 125 e 126/XIII (3.ª). Concentrar-me-ei sobre a proposta de lei que regula a transferência de dados dos
recursos de identificação de passageiros por transportadoras aéreas.
Esta proposta refere-se aos dados PNR (Passenger Name Record) e, neste caso, parafraseando um antigo
Presidente desta Casa, diria «curioso nome».
Queria citar a exposição de motivos da proposta de lei: «Os dados dos registos de identificação dos
passageiros (‘dados PNR’) são constituídos por informações pessoais fornecidas pelos passageiros e
recolhidas, tratadas e conservadas pelas transportadoras aéreas, apenas para fins comerciais». «Apenas para
fins comerciais»? Então, de que dados estamos a falar? Que dados são tão relevantes para a investigação de
crimes de terrorismo e de alta criminalidade, que sejam dados de natureza estritamente comercial? De que é
que estamos a falar? Do nome do passageiro? Do lugar onde essa pessoa se sentou? Dos sítios para onde
viaja frequentemente? Se gosta mais de viajar à janela ou no corredor? Qual é a alimentação que prefere?
Havia um sketch do Gato Fedorento, sobre um debate acerca da luta contra o terrorismo, em que uma
deliciosa personagem, interpretada por Ricardo Araújo Pereira, o Gajo de Alfama, louvava a existência de uma
bomba que «ia lá pelo cheiro a caril». A história tem graça se for a denúncia, como era no caso, de um senso
comum absolutamente estupidificante, mas a história não tem graça nenhuma, quando a bomba que «vai lá pelo
cheiro a caril» se torna lei, que legitima abusivamente a intromissão em todas as nossas vidas e o faz de uma