I SÉRIE — NÚMERO 104
34
O Sr. Tiago Barbosa Ribeiro (PS): — … sem passar pela concertação, coisa que fizeram com muitos outros
direitos que tiraram.
Se é esse o vosso modelo, confundem imposição com diálogo e intolerância com concertação, não contem
com o Partido Socialista para fazer do Parlamento um simulacro, um carimbo da concertação social. Com o
Partido Socialista, há, houve e continuará a haver outro caminho.
A Sr.ª JoanaBarataLopes (PSD): — O agendamento, hoje, é outro! Agora, vamos falar do tema do debate
de hoje!
O Sr. TiagoBarbosaRibeiro (PS): — Depois de arrumarmos a casa em relação às medidas mais urgentes,
em termos de reposição dos rendimentos, de reforço do emprego e de alterações prementes às leis laborais,
desenvolvemos um estudo aprofundado em torno do Livro Verde, discutimos soluções e encetámos um diálogo
que envolveu parceiros e partidos.
Como todos os acordos, este resulta de um processo negociado e da aproximação entre as partes, e é
inédito. É inédito, porque envolve o compromisso dos parceiros sociais num caminho positivo de combate à
precariedade.
O envolvimento da concertação neste acordo é fundamental, não porque o Parlamento não tenha
legitimidade para apresentar as propostas que entenda, mas, sim, para proteger estas medidas de combate à
precariedade de futuras derivas da direita, bem como de pressões externas de instituições internacionais que
apenas querem flexibilizar e cortar.
Partimos do diagnóstico que fizemos e dos desafios que enfrentamos: Portugal tem 22% de empregos não
permanentes, contra a média europeia de 14%; no setor privado, um em cada três contratos são não
permanentes; 85% dos primeiros vínculos à segurança social são de contratos não permanentes e dois em cada
três jovens têm contratos deste tipo.
Precisamos de medidas para enfrentar este desafio e apresentamo-las: limitamos as possibilidades legais
de contratação a termo; reforçamos a proteção dos trabalhadores temporários; incentivamos a contratação sem
termo e punimos a precariedade com a taxa de rotatividade até 2% da massa salarial dos trabalhadores
precários; garantimos melhor acesso à proteção social dos trabalhadores precários; reforçamos a capacidade
inspetiva da ACT; e promovemos a dimensão coletiva das relações de trabalho, acabando com o banco de horas
individual, que a direita continua, aparentemente, a contestar.
É verdade que temos visões plurais e nem sempre coincidentes, mas mesmo aqueles que consideram estas
medidas insuficientes não podem deixar de reconhecer que elas traduzem passos firmes no caminho que temos
trilhado e correspondem a uma melhoria objetiva para os trabalhadores que não deve merecer uma oposição
de princípio mas, sim, um acordo de princípio para o nosso trabalho na especialidade.
Aplausos do PS.
Não precisamos de ser convocados para esse trabalho, porque somos convocados pelos nossos valores na
defesa do trabalho digno e do trabalho justo.
O Sr. CarlosCésar (PS): — Muito bem!
O Sr. TiagoBarbosaRibeiro (PS): — Um bom acordo não é um acordo imutável nem tão-pouco um acordo
que, no respeito pelos princípios acordados, não possa nem deva ser melhorado, Sr. Deputado Adão Silva.
O Sr. AdãoSilva (PSD): — Vamos ver!
O Sr. TiagoBarbosaRibeiro (PS): — É essa a nossa função como Deputados a esta Assembleia da
República.
Essa posição, aliás, também já foi expressa por parceiros que assinaram o acordo e apelam à nossa
intervenção no Parlamento, como é o caso da UGT.