I SÉRIE — NÚMERO 104
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E, para nós, não, por uma razão muito simples: «a corrida à portuguesa constitui uma manifestação singular
de originalidade da cultura lusa» — não sou que o digo, é a ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação
Social). É um facto, e assim é!
Protestos do Deputado do BE Luís Monteiro.
Mas, Srs. Deputados, com o consentimento dos Srs. Deputados do Bloco de Esquerda, convém dizer que o
que está em causa não é — como vi, até, na comunicação social — uma discussão entre aqueles que, como o
PAN, defendem uma doutrina mais ou menos animalista e aqueles que são aficionados e que defendem a corrida
à portuguesa. Não é isso que está em causa! O que está em causa é uma discussão entre aqueles que, em
Portugal, pretendem proibir a tourada e aqueles que, em Portugal, entendem que a tourada pode e deve
continuar. Essa é que é a questão!
A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Por exemplo, neste Grupo Parlamentar, há quem seja aficionado, há
quem não seja aficionado, há quem, como eu, não vá a uma corrida de touros há muitos e muitos anos nem se
movimente por isso, há quem seja, até, crítico das corridas de touros, mas nenhum de nós entende que devam
ser proibidas. E é por isso que, independentemente da opinião de cada um, votaremos todos contra.
Aplausos do CDS-PP e de Deputados do PSD.
Essa é a discussão, que aqui ficaria resolvida, mas vamos rever também, Sr. Deputado André Silva, os seus
argumentos.
Não entraria, sequer, no seu primeiro argumento, que é uma citação sucessiva de encíclicas — algumas das
quais do tempo da Inquisição, Sr. Deputado! Cuidado com as encíclicas que escolhe, cuidado com as encíclicas
que pretende citar! Mas não é por aí, até porque o Sr. Deputado resolveria melhor essa questão se, em vez de
citar encíclicas, se afirmasse do hinduísmo, porque aí, sendo as vacas sagradas, o princípio estaria resolvido
por natureza.
Risos e aplausos do CDS-PP e de Deputados do PSD.
A questão, Sr. Deputado — e deixo-lha como desafio —, é esta: com que direito é que o Sr. Deputado
pretende, a partir de uma opinião, a partir de um preconceito e a partir de uma conceção, extinguir, condenar,
eliminar toda uma atividade que, ao contrário do que o Sr. Deputado diz, tem seguramente umas dezenas largas
de ganadarias, umas dezenas de toureiros, umas dezenas de bandarilheiros, milhares de forcados, populações
inteiras?
Foi por isso que 44 municípios se manifestaram hoje contra a sua proposta, porque entendem que se trata
de uma forma de vida, de uma forma de vida do mundo rural, de uma forma de vida que nem o Sr. Deputado
nem nenhum hábito, lisboeta ou outro, tem o direito de impor a muito do País que vive desta realidade.
Aplausos do CDS-PP, de Deputados do PSD e do Deputado do PS Luís Moreira Testa.
Quem vive desta realidade, Sr. Deputado, conhece, de resto, uma frase antiga, que vem da tauromaquia e
que provavelmente o Sr. Deputado não conhece, como não conhecerá muito desta realidade…
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Sr. Deputado, tem de terminar.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Termino, Sr. Presidente, com esta frase: «Mais cornadas dá a fome!»
Mas, Sr. Deputado, condenar esta gente toda a não poder viver daquilo que é o seu meio de vida é
absolutamente inaceitável e seria uma cornada inaceitável do PAN condenar os portugueses àquilo que é o seu
veganismo. É que, se há violência sobre os animais, também há violência nos abates, também há violência na