I SÉRIE — NÚMERO 106
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Na verdade, a questão europeia tem uma história na presente solução política que não devemos desvalorizar.
Está certamente recordado do compromisso que fizemos, em 2015, para aumentar o salário mínimo nacional.
Lembra-se do que disse, na altura, a Comissão Europeia, aliás, acompanhada pelo coro da direita
portuguesa? Afirmou, e repetiu, que não se podia aumentar o salário de quem ganhava 505 € por mês, que era
uma absoluta irresponsabilidade e que o País pagaria caro em aumento do desemprego.
Vozes do BE: — Bem lembrado.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Pois bem, o Governo português rejeitou a chantagem europeia, manteve-
se fiel ao compromisso que tinha com o Bloco e com o País, e ainda bem que o fez!
Mais de um quinto dos trabalhadores viu aumentar o seu salário, ano após ano, o emprego aumentou e
estamos hoje em condições de garantir o salário mínimo acima dos 600 € num curto prazo.
O que sucedeu com o salário mínimo repetiu-se com o fim dos cortes inconstitucionais em salários ou com a
atualização das pensões. Lembra-se, seguramente, de como Bruxelas não aceitava que fossem eliminados os
cortes que Passos e Portas lhes tinham apresentado como permanentes, ou dos briefings anónimos a anunciar
o caos em Portugal com a simples aplicação do Programa do Governo, após os acordos com a esquerda, e de
como foi necessária determinação para fazer diferente.
Estou certa de que, como eu, o Sr. Primeiro-Ministro não se arrepende de ter contrariado Bruxelas, de ter
devolvido salário e de ter descongelado as pensões.
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sabíamos, na altura, que teríamos de ir mais longe e que nada disto seria
simples. Nunca escondemos as nossas diferenças, mas nunca deixámos de procurar compromissos essenciais.
Deixe-me citar-lhe uma das conclusões a que chegámos em conjunto sobre o Tratado Orçamental.
Diz o relatório assinado por Bloco e PS: «as exigências continuadas de saldos primários excessivos
colocadas à economia e às finanças públicas são social e politicamente insustentáveis. De facto, tal exigiria ou
um aumento de impostos significativo ou uma deterioração da qualidade dos serviços públicos e das prestações
sociais.»
Protestos do Deputado do CDS-PP Hélder Amaral.
Ou seja, não é novidade, para nenhum de nós, que as imposições orçamentais de Bruxelas fragilizam os
serviços públicos.
Demos conta disso publicamente, em conjunto. Proteger o Serviço Nacional de Saúde, a escola pública,
garantir transportes públicos, exigia tomar iniciativas em Bruxelas e a mesma vontade que permitiu aumentar o
salário mínimo ou descongelar as pensões.
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — O que mudou, então?
Protestos do Deputado do CDS-PP Nuno Magalhães.
Mudou a postura do Governo. O Governo viu desaparecer, em cada décima de défice cortada por Bruxelas,
e sempre ultrapassada pelo Ministro das Finanças, a capacidade de investimento na saúde, nos transportes,…
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — … na educação, na ciência, na cultura, no território. Este é hoje o nosso
maior problema e, por isso, o Ministro Santos Silva tem toda a razão, temos mesmo de falar de política europeia.