20 DE OUTUBRO DE 2018
17
que tem havido —, precisamente, quando não tem condições para aí viver. Essa é a primeira questão que tem
de ser colocada, Sr. Ministro.
Vou dar dois exemplos porque não tenho tempo para muito mais.
Primeiro, o Sr. Ministro sabe que há concelhos do interior em que as famílias não conseguem ainda que os
seus filhos frequentem toda a escolaridade obrigatória nos seus locais de residência e fica a expensas das
famílias a sua deslocação. Isso é uma situação inadmissível no nosso País, num País que incentiva que as
pessoas cumpram o ensino obrigatório.
Segundo, o Sr. Ministro sabe o que se está a passar com as estações dos CTT. Percebemos, hoje, que,
tendencialmente, só vão ficar abertas as estações de CTT que tiverem bancos. Passamos de 600 para 200!
Quer dizer que, na esmagadora maioria dos distritos do País — há distritos com 10, 15, 20 municípios —, vamos
passar a ter também duas ou três estações dos CTT.
São exemplos concretos e isto não pode acontecer! Não pode haver apenas retórica de apelos ao
desenvolvimento sem que se criem condições de desenvolvimento no território.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para responder, o Sr. Ministro Adjunto e da Economia.
O Sr. Ministro Adjunto e da Economia: — Sr. Presidente, Sr. Deputado, a questão dos serviços públicos
no interior é absolutamente decisiva também nisto.
Aquilo que definimos como territórios do interior tem cerca de dois milhões de habitantes. Esta população
está mais ou menos estável desde o início deste século, mas isso conseguiu-se muito graças ao prolongamento
da esperança média de vida, o que significa que temos hoje um interior muito diversificado, com algumas cidades
que são polos universitários que atraem empresas, empresas industriais, empresas do setor agroalimentar,
atividade agrícola, mas depois temos muita população dispersa e envelhecida.
Todas estas pessoas são nossos concidadãos e merecem a mesma qualidade de serviços públicos que o
Sr. Deputado ou eu próprio. Nesse sentido, temos de perceber que levar serviços públicos a populações
dispersas e cada vez mais carenciadas é um desafio muito significativo.
É por isso que temos de assumir que a forma de assegurar os serviços públicos em territórios com baixa
densidade populacional não pode ser a forma como os asseguramos nas grandes cidades ou mesmo nas
cidades médias. É diferente ter um centro de saúde que tem 5000 utentes num raio de 500 m ou esses mesmos
utentes estarem dispersos num raio de 10 km. Portanto, neste sentido, a forma como organizamos a nossa
resposta de serviços públicos tem de ser diferente.
Dou-lhe alguns exemplos: este Governo decidiu manter em funcionamento 400 turmas do ensino secundário
com menos de 21 alunos, ao contrário daquilo que seria o rácio definido na lei. Isto tem permitido que alunos de
territórios menos densamente povoados continuem a frequentar a escola em locais mais próximos do seu local
de residência. E quando isso não é possível temos de assegurar bons transportes escolares.
Às populações mais frágeis, mais envelhecidas, mais carenciadas de cuidados médicos ou de proteção
social, temos de arranjar soluções de mobilidade e de atendimento diferentes.
Por exemplo, no Pinhal Interior lançámos uma experiência piloto que passa por equipas móveis, de apoio
médico ou psicológico, que circulam precisamente pelos territórios para dar esse atendimento. Esta é uma
situação de que temos de estar conscientes e que vai ser cada vez mais importante.
Estou convencido de que vamos conseguir manter a população nos territórios do interior concentrando-a em
núcleos urbanos, mas vamos ter, provavelmente, ainda muitos anos em que teremos de tratar de populações
que estão mais dispersas e que precisam de uma resposta mais eficaz, mais satisfatória, mesmo que ela seja
mais dispendiosas.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma réplica, o Sr. Deputado Pedro Soares, do Grupo Parlamentar
do Bloco de Esquerda.