6 DE DEZEMBRO DE 2018
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No entanto, há mais duas questões que precisam de ser discutidas e estas talvez em desfavor do Ministério
Público.
Não obstante as diferenças entre as duas magistraturas, não se percebe por que razão, em duas matérias
que nada têm a ver com a essência de cada uma delas, haja dois pesos e duas medidas, afrontando o princípio
do paralelismo e até, porventura, o da autonomia externa do Ministério Público. Para os juízes, as remunerações
devidas pelas acumulações e substituições são decididas pelo Conselho Superior da Magistratura. Para os
magistrados do Ministério Público, as remunerações já são decididas pela Sr.ª Ministra.
Em relação aos limites das despesas de movimentação dos magistrados, no caso dos juízes, é o Conselho
Superior da Magistratura que define; no caso dos magistrados, é a Sr.ª Ministra e o Dr. Mário Centeno que
definem. Isto é talvez incompreensível!
Concluindo, Sr.ª Ministra e Srs. Deputados, o PSD desafia o Governo e o Partido Socialista a refletirem
connosco, a entrarem no debate, a dialogarem connosco no sentido de saber se estas questões são ou não
prioritárias para melhorar o sistema de justiça, no seu todo. Ou nós dialogamos sobre estas disfunções, com
especial destaque para aquela de que falei, a da recomposição do Conselho Superior do Ministério Público, ou,
então, ficamos nos antípodas.
Sr.ª Presidente e Sr.ª Ministra, se o Governo e o Partido Socialista aceitarem o desafio, estão no bom
caminho; se o recusarem, estão a prejudicar o País e para isso, obviamente, não contarão com o apoio do PSD.
Aplausos do PSD.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Machado,
em nome do PCP.
O Sr. JorgeMachado (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Ministra da Justiça, Sr. Secretário de Estado dos
Assuntos Parlamentares, Sr.as e Srs. Deputados: Em nota emitida em junho de 2015, o Partido Comunista
Português considerava inaceitável que a poucas semanas do final da Legislatura estivessem por aprovar os
estatutos das magistraturas. Essa situação era mais um exemplo da total irresponsabilidade da atuação do
Governo PSD/CDS na condução dos assuntos de Estado e que, inevitavelmente, afetaria o funcionamento
regular das instituições, no caso o sistema judicial.
Não se trata da aprovação de um normal estatuto profissional, mas, sim, da aprovação de estatutos previstos
constitucionalmente e cujo conteúdos e regras são determinados pela própria natureza da função constitucional
que os seus titulares desempenham.
Os estatutos são, além disso, diplomas estruturantes, essenciais no próprio funcionamento da organização
judiciária. A sua desatualização, designadamente no caso das magistraturas do Ministério Público, cujo Estatuto
hoje discutimos, põe em causa o normal funcionamento desta importante magistratura, que tem como função
constitucional o exercício da ação penal e a defesa da legalidade democrática.
Em outubro de 2015, a Legislatura mudou, o Governo também e foi preciso recomeçar. As propostas de lei
relativas aos estatutos das magistraturas tardaram muito e estamos, finalmente, hoje, a partir deste debate, em
condições de iniciar o trabalho, na especialidade, relativo aos estatutos de ambas as magistraturas.
Haverá, decerto, dificuldades a ultrapassar, maiores ou menores, mas devem ser enfrentadas e
ultrapassadas. Esta Legislatura não pode chegar ao fim sem que os Estatutos sejam aprovados.
O Estatuto do Ministério Público em vigor decorre ainda, no essencial, da Lei n.º 47/86, que tem mais de 30
anos. Muitas alterações ocorreram nestas mais de três décadas na área da justiça, incluindo uma reorganização
do sistema judiciário. Uma revisão global do Estatuto do Ministério Público é uma exigência indeclinável e não
pode mais ser adiada.
O Estatuto do Ministério Público tem balizas constitucionalmente clarificadas e definidas que devem ser
rigorosamente respeitadas. A autonomia desta magistratura, no plano externo mas também no plano interno, é
uma pedra basilar do Estado de direito democrático.
A proposta de lei que o Governo apresenta constitui uma base de trabalho para a discussão na especialidade.
Ao longo dos últimos meses, tem havido um intenso debate sobre soluções a consagrar, envolvendo muitos
magistrados, por iniciativa do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público.