7 DE DEZEMBRO DE 2018
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Mas mais incompreensível ainda, Sr.as e Srs. Deputados, é que, face a isto, os senhores tenham decidido
que há um prazo a partir do qual a identidade genética é importante e um outro até ao qual esta não tem qualquer
valor. Recusamos a visão de uma sociedade em que há crianças e pessoas marcadas por um prazo.
A Sr.ª Maria Antónia de Almeida Santos (PS): — Hipocrisia pegada!
A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — Porque é isso que os senhores fazem!
O Sr. Moisés Ferreira (BE): — É sempre possível aceder aos dados!
A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — O que os senhores fazem é plasmar, em lei, uma desigualdade
gritante, onde há crianças de primeira e crianças de segunda; crianças com direito a conhecer a sua identidade
genética e crianças sem direito a conhecer a sua identidade genética. O que os senhores fazem viola flagrante
e clamorosamente o princípio da igualdade. E, por isso mesmo, é, obviamente, inconstitucional. E é tão
inconstitucional, Sr.as e Srs. Deputados, que foi exatamente por isso — vejam só — que, ao contrário do que fez
na gestação de substituição, o Tribunal Constitucional não limitou efeitos.
De facto, ciente das dificuldades de quem já se tivesse submetido a atos médicos para dar início à gestação
de substituição, o Tribunal Constitucional teve em conta isso mesmo e, portanto, fez operar os efeitos dessa
inconstitucionalidade — a da gestação de substituição — apenas para o futuro. Mas, naturalmente, não fez o
mesmo para o fim do anonimato dos dadores. Entendeu, e bem, que o fim do anonimato se devia aplicar a
todos, sem exceção: para os já nascidos, para os em via de nascer ou para os que hã de nascer no futuro.
A Sr.ª Maria Antónia de Almeida Santos (PS): — E é vossa responsabilidade!
A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — Donde, Sr.as e Srs. Deputados, os projetos de lei que o PAN, o
PCP, o Bloco de Esquerda, o PS e o PSD apresentam hoje, nesta Câmara, violam não só uma decisão do
Tribunal Constitucional como também enfermam de outro problema constitucional: a violação do princípio da
igualdade, que o CDS não deixará de, outra vez, sinalizar e tudo fazer para o impedir.
Temos, legitimamente, diferentes visões do mundo. Respeitamos todas, como sempre fizemos e como
sempre faremos, mas defenderemos a nossa até ao fim, sempre do mesmo lado, sem hesitações, sem receios
e, sobretudo, recusando a ideia de que este é um debate em que de um lado está quem é contra a PMA
(procriação medicamente assistida) e do outro lado está quem é a favor da procriação medicamente assistida,…
Vozes do PS e do BE: — Ah!
A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — … que deste lado está quem é contra o legítimo desejo de constituir
família e desse lado quem é a favor do legítimo direito de constituir família, ou que este é um debate em que de
um lado se defende a preservação dos embriões e do outro se defende a destruição dos embriões. Lembro bem
outros debates que fizemos a este propósito e sei bem quem estava de que lado.
Temos pensamento, temos discurso e temos obra em qualquer das matérias, temos é caminhos muito
diferentes para lá chegar. Para nós, o caminho que as Sr.as e os Srs. Deputados fazem é o pior, não responde
ao essencial e, acima de tudo, viola princípios fundamentais de um Estado de direito que, da nossa parte, nos
recusamos a desrespeitar.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, inscreveram-se quatro Deputados para lhe formularem pedidos de
esclarecimento. Como pretende responder?
A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — Sr. Presidente, irei responder aos quatro pedidos de esclarecimento
em conjunto.