I SÉRIE — NÚMERO 30
24
São as vossas responsabilidades relativamente às questões da habitação, no nosso País, que os senhores,
em particular o PSD, pretendem branquear, fazendo hoje este debate e trazendo, aqui, um conjunto de iniciativas
que não resolve nenhum dos problemas com que os moradores e as famílias hoje estão confrontados.
O Sr. António Filipe (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — O que, hoje, se está a passar, com os despejos, é que as pessoas que sempre
cumpriram os seus contratos e as suas responsabilidades vão para a rua. O que, hoje, está colocado, em cima
da mesa, é a «porta da rua» por parte dos senhorios. Há pessoas que não têm condições para pagar rendas
especulativas, em muitos locais das nossas cidades, e os senhores respondem com benefícios fiscais para
quem tem sempre beneficiado com a lei, que desprotegeu os direitos dos inquilinos e dos moradores.
O Sr. Álvaro Castello-Branco (CDS-PP): — É mentira!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Esta é a verdade relativamente a este debate!
Quando o PSD fala, refere que há incerteza. Há incerteza, sim senhora! Há incerteza na vida destas famílias,
a incerteza de não saberem se, quando chegarem ao final do seu contrato, o senhorio lhes vai duplicar a renda
ou, pura e simplesmente, não lhes vai renovar o contrato. Há incerteza dos pequenos comerciantes, que não
investem, porque não sabem se o seu contrato vai ser renovado para manterem a sua atividade económica.
Esta é que é a verdade!
Queria, ainda, referir algo que creio ser muito claro quanto às opções políticas e ideológicas do debate que
se está hoje a fazer. O PSD traz uma proposta que reduz os impostos, em particular em sede de IRS, se o
contrato que for estabelecido tiver uma duração superior, o que o PSD não diz é que essa redução de impostos
é relativa a qualquer valor de renda, seja de 300 €, de 1000 €, de 3000 € ou de 4000 €. O que, na prática, se
está a fazer e quem vai verdadeiramente beneficiar desta medida são os proprietários, que hoje cobram rendas
de valores totalmente especulativos — de 3000, 4000 e 5000 € — e passam a ter uma redução de impostos,
em sede de IRS. Naturalmente, isto, em nada beneficia o arrendamento, não promove qualquer tipo de
arrendamento, apenas traz benefícios para aqueles que, ao longo de todos estes anos, sempre têm sido
beneficiados, que são, em particular, os grandes proprietários e os fundos imobiliários.
O Sr. António Filipe (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — A solução, face ao problema que hoje está colocado, é a proposta que o PCP
trouxe à Assembleia da República: a revogação desta lei, porque é isto que permite, efetivamente, travar os
despejos com que milhares de famílias se confrontam.
Relativamente a esta matéria, aquilo que verificamos é que há, de facto, uma convergência não só entre o
PSD e o CDS, mas também com o Partido Socialista, ao não acompanhar o PCP nesta proposta.
Aquilo que importa, relativamente a esta questão, é que se a vontade for proteger os inquilinos e garantir o
direito à habitação, então, temos de tomar medidas efetivas nesse sentido.
A questão que aqui se coloca, também, é a de saber se o Partido Socialista está do lado da defesa dos
inquilinos, dos moradores, e da proteção da habitação ou se está do lado da manutenção do sistema, tal como
está, continuando a beneficiar os interesses privados.
O PCP entregou na Assembleia da República um projeto de lei de bases da habitação que rompe totalmente
com o sistema que está instalado e que situa a habitação não como uma mera mercadoria, mas cumprindo uma
função social, a de dar resposta às carências habitacionais que estão hoje identificadas. É para isso que
consideramos fundamental haver uma intervenção direta do Estado, não deixando essa intervenção nas mãos
dos privados, como hoje acontece. É fundamental que o Estado disponibilize e promova a habitação pública
para responder às necessidades das populações.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr.ª Deputada, queria pedir-lhe que terminasse.
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Vou terminar, Sr. Presidente.