I SÉRIE — NÚMERO 46
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O chamado plano nacional de investimentos até 2030, que foi apresentado, ainda que se concentre apenas
nos investimentos acima dos 75 milhões de euros em transportes e mobilidade, energia, água e ambiente em
Portugal Continental, traduz uma ideia global dos investimentos de maior dimensão que o Governo projeta para
a próxima década, onde fica claro o caráter insuficiente e limitado dos níveis globais de investimento público
previstos para tão largo período, cerca de 21 000 milhões de euros, e que tem como consequência o adiamento
de um elevado número de investimentos para lá de 2030.
Fica evidente também a marca da subordinação aos interesses dos grupos económicos, visível em várias
dimensões, como na manutenção das chamadas parcerias público-privadas como base de vários investimentos
previstos e do controlo estratégico das multinacionais sobre este setor.
No Programa Nacional de Investimentos 2030 (PNI 2030) assume-se que a gestão da rede de autoestradas,
portos e aeroportos, bem como da rede elétrica, seja efetuada por via de concessões aos grupos económicos.
É urgente romper, de forma clara e decidida, com essa política de Estado, seguida durante décadas, de
desmantelamento e privatização de funções que são suas, com graves consequências para o País.
O conjunto de investimentos anunciados para o setor da energia, no fundamental indicia novas transferências
de custos dos investimentos em redes de eletricidade e gás natural para os consumidores e exibe a expectativa
do Governo de que o capital privado, 80% do investimento anunciado, continue a investir no setor incentivado
pelo negócio com vultuosas rendas e sem riscos.
Em relação à água e resíduos, os valores indicados no PNI 2030 são claramente insuficientes para o
horizonte temporal a que reportam, sendo as áreas da renovação e reabilitação de redes a par da intervenção
a montante numa rede de infraestruturas hidráulicas e de ação sobre a qualidade das massas de água os
aspetos principais a que importa dar atenção.
O PCP participa neste debate de forma construtiva, com propostas concretas e apresenta hoje também o
seu projeto de resolução, que será um contributo para esta discussão que prossegue na Assembleia da
República e no País.
Assim, propomos, entre outras questões centrais: a realização de um balanço rigoroso e detalhado dos
investimentos projetados no PET (Plano Estratégico dos Transportes), PETI 3+ (Plano Estratégico dos
Transportes e Infraestruturas) e no Ferrovia 2020 com uma explicação fundamentada dos atrasos e das ilações
a retirar; a redefinição do PNI 2030, considerando uma abordagem sistematizada a investimentos e opções
estratégicas que são urgentes e indispensáveis e que aprofundamos no nosso documento; uma política que dê
prioridade ao transporte coletivo e público, valorizando-o sobre o transporte individual, com a promoção da
fiabilidade e segurança da operação, reforçando o carácter intermodal e a articulação metropolitana; a aposta
na prioridade ao modo ferroviário, designadamente à modernização e à eletrificação da ferrovia; a reativação da
marinha mercante; a reconstrução de um forte setor público, universal e de qualidade, como condição para o
desenvolvimento e a soberania do País, com a recuperação do controlo público do setor e respetivas
infraestruturas, assegurando o seu papel estratégico.
Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Não se recusa nem se nega a importância de
muitos dos investimentos constantes no PNI 2030. Muitos deles correspondem a velhas reivindicações das
populações, das autarquias locais, do tecido produtivo nacional, obras cuja concretização, em muitos casos, só
pecará por ser tardia.
Mas um plano nacional de investimentos é muito mais do que uma lista de infraestruturas; é uma
oportunidade para projetar o País que se quer ter na primeira metade do século XXI; é um momento para
potenciar e alargar o potencial que este tipo de investimentos contém para o desenvolvimento do aparelho
produtivo nacional, para libertar o País da dependência e da subordinação aos interesses dos grupos
monopolistas, para promover a coesão de todo o território nacional, para responder a problemas de fundo que
se arrastam e agravam há anos no plano ambiental, para promover a capacidade de projeto, engenharia,
investigação e construção do nosso País.
É esse o sentido da proposta do PCP, por mais e melhor investimento, infraestruturas, produção nacional,
opções por um Portugal com futuro.
Aplausos do PCP.