I SÉRIE — NÚMERO 49
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À semelhança da evocação de outras figuras que passaram pelas lides parlamentares desta Casa, desde o
triunfo do liberalismo, passando pelo novo regime Republicano e após a Revolução de Abril, a Assembleia da
República afigura-se como o local ideal para perpetuar a memória destes três congressistas da I República e
que também como militares tombaram na voragem da Guerra. Refiro-me às três figuras aqui já mencionadas: o
capitão João Francisco de Sousa e o major José Afonso Palla, este herói do 5 de Outubro, que morreram no 5
de Outubro, e o comandante Carvalho Araújo que, ao comando do caça-minas Augusto de Castilho, perdeu a
vida em combate contra os alemães.
Infelizmente, não foram estes congressistas militares os únicos portugueses que tombaram no decurso da I
Guerra Mundial e cujo epílogo foi evocado no ano passado.
Sem dúvida que se tratou de uma guerra injusta, provocada pelas principais potências europeias imperialistas
que disputavam a hegemonia mundial da época: a Alemanha, a Áustria-Hungria, a Rússia, a França e a
Inglaterra.
Apesar de assegurar a posse das colónias em África, as consequências da Guerra para Portugal foram
catastróficas, tal como foram para a humanidade. A nível mundial, foram mais de 10 milhões de mortos,
devastação a nível económico e social, e também Portugal não escapou a essas consequências dramáticas,
com muitos milhares de mortos.
Inclusivamente, em Portugal, a instabilidade dos Governos republicanos agravou-se com a inflação, com
dificuldades económicas e sociais, como já disse, e com golpes militares que facilitaram o advento de ditaduras,
tal como a de Sidónio Pais, tal como a iniciada a 28 de maio de 1926, tal como, depois, o salazarismo.
De qualquer modo, todos estes acontecimentos não diminuem o reconhecimento e a evocação da memória
dos congressistas militares referidos, que sacrificaram as suas vidas na Guerra, em defesa do País.
Desta forma, o Bloco de Esquerda concorda com a evocação da memória dos três militares congressistas
aqui referenciados.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem agora a palavra, em nome do Grupo Parlamentar do PSD,
para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Conceição Ruão.
A Sr.ª Conceição Bessa Ruão (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Entre as diversas formas
de evocação da I Guerra Mundial, surge, no âmbito da Assembleia da República, a evocação a três homens que
cumpriram uma dupla missão perante o seu País: a de parlamentares e a de combatentes na Grande Guerra de
1914-1918.
As referências comuns que encontramos nos três homens que pretendemos relembrar são de ontem, de hoje
e de todos os tempos para aqueles que assumem trabalhar em favor do bem comum, com base nas suas
convicções: sentido de missão e espírito de serviço.
Norteados por estes valores, José Palla, João Francisco de Sousa e José Botelho Carvalho Araújo, sendo
que o segundo abdicou mesmo da sua imunidade parlamentar para combater, e José Botelho — tenho uma
referência especial para o distrito do Porto — foi Deputado pelo círculo de Penafiel, ao tempo, em 1914.
Oriundos de pontos diferentes do País e sendo que um era mesmo originário da Guiana Inglesa, eram todos
membros do Partido Democrático, e não foi por acaso que se envolveram em confrontos militares, sendo
parlamentares, quer no norte de Angola e de Moçambique.
Em 1914, já existiam combates nas fronteiras das antigas colónias em África, pelo que, desde cedo, o Partido
Democrático, no poder em Portugal e ao qual viriam a pertencer todos estes elementos, demonstrou interesse
em tomar parte beligerante no conflito.
Em setembro desse ano, eram enviadas as primeiras tropas para África, onde os esperavam uma série de
derrotas perante os alemães, na fronteira sul de Angola com o Sudoeste Africano Alemão e na fronteira ocidental
com a África Oriental Alemã.
Este ambiente histórico explica a motivação para três parlamentares terem abandonado a vida parlamentar
e assumirem combater no sul de Angola contra os alemães.