I SÉRIE — NÚMERO 49
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O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Aquilo que é proposto hoje à Assembleia da
República, o de podermos assinalar memória de três congressistas da I República que morreram na I Guerra
Mundial, é uma iniciativa que respeitamos.
Trata-se de três parlamentares, três figuras ilustres da I República Portuguesa que, efetivamente, foram
vitimadas pela participação de Portugal na I Guerra Mundial.
Portanto, compartilhamos o propósito desta iniciativa e achamos que o Parlamento deve assinalar, de facto,
a passagem por esta Casa destas três personalidades.
Não se trata de discutir, com isso, a justeza da participação na I Guerra Mundial. Apesar de Portugal ter
desfilado, em 1918, do lado dos vencedores, importa assinalar que a I Guerra Mundial foi uma derrota para
todos. Foi uma disputa entre potências pela hegemonia mundial com a qual ninguém beneficiou.
Portugal sofreu uma grande derrota a vários níveis: sofreu a derrota das mortes dos portugueses que
pereceram na I Guerra Mundial, nas várias frentes de combate; sofreu pela impreparação dessa participação, a
todos os níveis — aliás, a morte de Carvalho Araújo, enquanto Comandante de um draga-minas que se opôs a
um submarino alemão é reveladora da desproporção de forças em presença. Foi, portanto, uma derrota para
todos.
A I Guerra Mundial deixou um lastro de muitos milhões de mortos e sequelas que estariam na base da
ascensão do nazismo e que estiveram na origem da II Guerra Mundial. Em Portugal, tiveram uma outra
consequência que foi o descalabro da I República e a participação de Portugal na I Guerra Mundial é inseparável
da ascensão, primeiro, do sidonismo e, mais tarde, da ditadura militar que deu origem ao fascismo, em 1926. A
I República nunca mais recuperou das sequelas da participação na I Guerra Mundial.
Sublinho, portanto, que não estamos a discutir a justiça ou injustiça da participação — isso é um dado
histórico que a história registará, com a toda a controvérsia que existiu na altura e que subsistiu até aos nosso
dias —, mas aquilo que se está aqui a discutir é o facto de ter havido três congressistas, que foram
personalidades distintas da República, que lutaram pela implantação da República em Portugal e que
pereceram, injustamente, na I Guerra Mundial.
É justo, portanto, que este Parlamento assinale esses acontecimentos e a memória dessas três
personalidades.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Agradeço às Sr.as Deputadas e aos Srs. Deputados que estão
em pé o favor de se sentar logo que possível.
Vamos prosseguir com a intervenção do Sr. Deputado não inscrito Paulo Trigo Pereira.
O Sr. Paulo Trigo Pereira (N insc.): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: Gostaria de saudar
o Partido Socialista por esta iniciativa e também de mencionar, especificamente, o Sr. Deputado Diogo Leão
pelo trabalho de investigação histórica que teve de fazer.
Identificar estes três parlamenteares mortos em combates decorrentes da I Guerra não é nada fácil, foi um
trabalho árduo que, sei, desempenhou e saúdo o Partido Socialista por este voto.
Trata-se, como já foi referido, de evocar a memória de três parlamentares mortos em combates decorrentes
da Guerra. Penso que é importante que, para além da evocação destes três, seja feita uma referência genérica
a todos os portugueses que morreram nesta Guerra.
Tive o privilégio de integrar a comitiva presidencial que foi celebrar a Batalha de La Lys, a 9 de abril de 2018,
no Cemitério de Richebourg, com outros parlamentares portugueses. Sei que, da mesma maneira que eu, outros
parlamentares têm ascendentes diretos que participaram na I Guerra Mundial e, em particular, na Batalha de La
Lys e que, obviamente, sem querermos discutir aqui a justeza da Guerra, uma das coisas que percebi — ao ler
mais, agora, sobre esta Guerra — é que os portugueses foram muito mal preparados e tivemos mortos, se
calhar, em excesso em relação ao que deveria ser desejável numa situação deste tipo.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr. Deputado, queira terminar.