14 DE FEVEREIRO DE 2019
21
Sim, ainda bem que estamos hoje a fazer um debate sobre este assunto. Contudo, a preocupação com a
pobreza não pode ser apenas o tema de um debate, deve ser também a orientação de cada política, uma
responsabilidade de todos os dias e de todas as medidas que aqui discutimos.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Vou terminar, Sr. Presidente.
Se a pobreza é uma violação dos direitos humanos, que políticas concretas contribuem para essa violação e
que políticas a combatem? Nas pensões, na habitação, nos transportes, na educação, na saúde, no combate
antirracista, na lei laboral, o Bloco sabe de que lado está.
Oxalá haja verdadeiramente maiorias para combater a pobreza!
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Diana
Ferreira, do PCP.
A Sr.ª Diana Ferreira (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: A pobreza é uma realidade sentida por mais
de 2 milhões de portugueses que todos os dias lutam para sobreviver, uma realidade que não é circunstancial
e que não é conjetural, mas tem causas estruturais. E para combater e erradicar a pobreza, porque o objetivo é
a erradicação da pobreza, é preciso intervir no que origina as situações de pobreza e exclusão social.
A pobreza e a exclusão social não são fatalidades, nem inevitabilidades; são, sim, realidades que resultam
de diversos fatores profundamente ligados à injusta distribuição da riqueza e ao processo de concentração de
riqueza, que vários Governos, ao longo de décadas, têm promovido.
Srs. Deputados, 1% da população detém 25% da riqueza nacional e 5% da população acumula quase 50%
da riqueza nacional, o que é profundamente revelador das enormes desigualdades sociais que persistem e que
precisam de ser firmemente combatidas.
Persiste uma realidade de desemprego, de precariedade e de baixos salários, uma prática acentuada no
nosso País e que faz com que haja trabalhadores que, recebendo o seu salário, vivem em situação de pobreza.
Persistem baixas pensões que resultam também dos baixos salários. Persistem dificuldades de acesso a
prestações sociais.
A pobreza anda, também, de mãos dadas com a má habitação, com a sobrecarga de despesas que as
famílias têm com a habitação, com um peso superior a 40%, afetando especialmente famílias de baixos
rendimentos, em resultado de uma especulação desenfreada no mercado de habitação e da lei dos despejos,
do PSD e do CDS, a qual nega o direito à habitação a milhares de famílias.
Tendo sido dados passos positivos na reposição de rendimentos e de direitos, importa ir mais longe e levar
mais longe o caminho para a erradicação da pobreza, o que é inseparável da criação de emprego com direitos,
da dinamização da produção nacional, do aumento geral dos salários, designadamente, do salário mínimo
nacional, do aumento das pensões e reformas, pelas quais o PCP tanto se tem batido, do reforço da proteção
social, mas também do cumprimento das funções sociais pelo Estado no que se refere à educação, à saúde e
à segurança social.
O PCP tem intervindo sobre tudo isto ao longo dos anos, com propostas, entendendo que o combate e a
erradicação da pobreza não se fazem com medidas assistencialistas ou caritativas, mas, sim, intervindo nas
questões de fundo que causam a pobreza.
Hoje, damos mais um contributo para essa mesma discussão e voltamos a intervir com a entrega de um
projeto de lei que defende a implementação de uma estratégia nacional de combate e erradicação da pobreza
e exclusão social, que, não esquecendo a necessidade de políticas integradas para este combate, bem como
de ações que previnam o risco de ocorrência de ambos os fenómenos, intervenha também no que se refere aos
equipamentos sociais de apoio à infância e aos idosos, às pessoas com deficiência e no que se refere também
aos vários planos em que se decide e determina a inclusão social. Uma estratégia que dê igualmente conta da
aplicação de medidas de emergência social que sabemos também serem necessárias face à situação de
pobreza que temos.