22 DE FEVEREIRO DE 2019
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O Sr. Presidente: — Inscreveu-se, para pedir esclarecimentos, a Sr.ª Deputada Isabel Pires, do Bloco de
Esquerda.
Tem a palavra, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Sr. Presidente, Sr. Secretário de Estado, da sua intervenção, acabou por não
ficar ainda clara qual é a posição do Governo em relação às propostas específicas que estão em cima da mesa
sobre o setor do call center.
Mas falou de uma questão, de que já outros aqui falaram, que é muito importante e que se prende com a
negociação coletiva. O problema da negociação coletiva e da contratação coletiva neste setor é que elas, pura
e simplesmente, não abrangem estes trabalhadores, porque o modelo que está instalado em todas as empresas
e em muitos setores do Estado, de que o IEFP é apenas um exemplo, é o do falso outsourcing e da
subcontratação.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Exatamente!
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Portanto, milhares de trabalhadores continuam a não ter acesso a qualquer
contratação coletiva porque se opta por este modelo de trabalho que propaga cada vez mais a precariedade.
O Sr. Jorge Costa (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Por isso é que apresentámos uma proposta no sentido de regulamentar a
profissão. É que ou vamos por este caminho ou, então, temos de obrigar as empresas, de uma vez por todas, a
contratarem diretamente estes trabalhadores.
Assim sendo, importava clarificar aqui qual é a posição do Governo. Até porque o projeto já apresentado pelo
Partido Socialista pretende que possa existir um estudo mais abrangente relativamente às questões de saúde e
segurança no trabalho sobre o setor dos call centers. Aliás, até refere a APCC — a Associação Portuguesa de
Contact Centers) —, em que, na verdade, o Partido Socialista tem um histórico e uma bagagem bastante
grandes, já que tem um Deputado que presidiu a esta Associação durante muitos anos.
Portanto, os dados existem, há teses de mestrado e há teses de doutoramento, pelo que a realidade é
sobejamente conhecida.
Importa perceber se o Governo e o Partido Socialista vão querer efetivamente fazer alguma alteração que
melhore a vida destes trabalhadores, ou não. É que, tal como está, as empresas não cumprem aquilo que é
devido aos trabalhadores porque, pura e simplesmente, não contratam os trabalhadores. Assim, para as EDP,
para as TAP, para o IEFP, para qualquer empresa ou grande empresa que utilize este modelo, estes
trabalhadores não existem.
O Sr. Presidente: — Peço que conclua, Sr.ª Deputada, se faz favor.
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Vou concluir, Sr. Presidente.
O que temos de assegurar é que estes trabalhadores são visíveis, existem e têm direitos.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Secretário de Estado do Emprego.
O Sr. Secretário de Estado do Emprego: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada, a posição do Governo a este
respeito é muito clara. Nós reconhecemos — e seria difícil não o fazer em função dos dados que temos
disponíveis — que este é um setor onde se colocam questões específicas das condições de trabalho dos
trabalhadores, onde há níveis de precariedade que são, segundo os dados a que temos acesso, claramente
superiores à média nacional e no qual, em função da natureza da atividade que é desenvolvida, se justifica um
acompanhamento maior, que, aliás, a ACT tem vindo a fazer. Acompanhamento, esse, no sentido de garantir
que há cumprimento da lei — e cumprimento da lei no que diz respeito não só às condições de trabalho mas