I SÉRIE — NÚMERO 60
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A Sr.ª Maria das Mercês Borges (PSD): — Não vale a pena!
O Sr. Luís Soares (PS): — Sr.as e Srs. Deputados, tudo no tempo certo. O tempo do Governo foi o tempo
suficiente, foi o tempo adequado para decidir por aquilo que os cuidadores reclamam, a atribuição de uma nova
prestação social, para pensar na estrutura de apoio ao descanso do cuidador, para desenvolver as equipas que
prestarão informações e que capacitarão os cuidadores.
A Sr.ª Maria das Mercês Borges (PSD): — Se nem cria camas na rede de cuidados continuados!…
O Sr. Luís Soares (PS): — Todo este tempo, Sr.as e Srs. Deputados, não se compadece com o apressado
altruísmo de última hora das propostas que agora se apresentam.
Foi por isso que, sem prejudicar o direito legítimo da Assembleia da República, dos grupos parlamentares,
das Sr.as e Srs. Deputados, sempre dissemos que esta seria uma tarefa do Governo, uma tarefa do Executivo.
A Sr.ª Maria das Mercês Borges (PSD): — Também achamos!
O Sr. Luís Soares (PS): — Na verdade, a proposta de lei do Governo é uma excelente base de trabalho
para, com rigor e, já agora, com os partidos que tiverem vontade, acertar, na especialidade, um diploma que
avance na expetativa que está criada e que é legítima, junto destes cuidadores.
Sempre dissemos, e fomos os únicos a inscrevê-lo no programa eleitoral para o mandato em curso, que
estes homens, estas mulheres, os idosos e, muitas vezes, crianças, cuidadores e pessoas cuidadas, precisam
de reconhecimento público. Precisam, sobretudo, não de regras, não de leis, não do Estatuto, mas daquilo que
sempre dissemos, precisam de medidas de apoio para que continuem a estar em condições de cuidar de quem
precisa. É isso que se faz hoje com a proposta de lei do Governo.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Prosseguimos com a intervenção do Bloco de Esquerda.
Tem a palavra o Sr. Deputado José Soeiro.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A minha primeira palavra é para
as cuidadoras informais e para os cuidadores informais que estiveram hoje, mais uma vez, à porta da Assembleia
da República e que se encontram nestas galerias, mas também para todas as centenas de milhares de pessoas,
sobretudo mulheres, que fazem esse trabalho não remunerado, muito pouco reconhecido e frequentemente
invisível, mas que é essencial à manutenção da nossa vida em comum.
A luta que, há mais de dois anos, as cuidadoras fazem pela visibilidade desta realidade, pelo reconhecimento
dos cuidados que prestam, é uma luta fundamental da democracia e da valorização do trabalho. É também
sobre isso o dia de hoje e é também sobre isso a greve feminista internacional, que se faz pelo combate à
desigualdade no emprego, que se faz pelo combate à divisão sexual do trabalho e que se faz pelo combate à
invisibilidade e à sobrecarga das mulheres no trabalho reprodutivo e não pago, no trabalho doméstico, no
cuidado das crianças e dos idosos.
Quando, há um ano, foi aqui debatida a petição dos cuidadores e das cuidadoras informais, o Bloco de
Esquerda foi o único partido que apresentou um projeto de lei para criar o estatuto das cuidadoras e dos
cuidadores. Sempre dissemos que não queríamos estar sozinhos neste tema e nesta causa.
Os cuidadores e as cuidadoras reconhecem certamente o papel importantíssimo que tiveram a Marisa Matias
e o Presidente da República nesta matéria, como também reconhecem o papel do Bloco de Esquerda, neste
Parlamento, a puxar pela existência de um estatuto, mas precisamos de uma maioria política na Assembleia da
República e essa maioria política implica convergência, diálogo e trabalho em comum.
Apesar do atraso e do ritmo lento, agora, como antes, estamos disponíveis para esse diálogo e para esse
trabalho em comum. Não temos todos, é certo, a mesma perspetiva.