I SÉRIE — NÚMERO 64
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É justo que os trabalhadores tenham os seus salários aumentados para que a riqueza seja melhor distribuída
e também é justo que as suas carreiras sejam devidamente valorizadas como condição de progressão e
valorização do tempo de serviço e de trabalho prestado, sem exceção e abrangendo todas as carreiras por igual.
É preciso que o Governo tenha em conta a indignação dos trabalhadores a quem decidiu aumentar os
salários mas apagar os pontos que permitiriam a progressão das suas carreiras. Nada obrigava o Governo a
fazer isto! Foi uma decisão errada!
Impedir a progressão e apagar o tempo de serviço com o pretexto do aumento dos salários é errado. O
aumento dos salários deve acontecer a par da valorização das carreiras, considerando os mais novos, mas não
desvalorizando nem ignorando aqueles que trabalham há dezenas de anos e cujo trabalho deve ser plenamente
reconhecido.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!
O Sr. JerónimodeSousa (PCP): — Essas são as medidas necessárias para levar mais longe a reposição
de direitos e de rendimentos e a valorização do trabalho e dos trabalhadores que está na origem do crescimento
económico.
O crescimento económico ficou, contudo, aquém do que era necessário e do que era possível para recuperar
anos de atraso e para ultrapassar défices estruturais, desde logo o défice produtivo. Pesaram negativamente as
opções do Governo ao aceitar os constrangimentos impostos pela União Europeia, os critérios do tratado
orçamental que o Governo levou mais além, designadamente o critério do défice com impacto negativo no
investimento e um serviço da dívida severamente condicionado e que está a refletir-se numa visível tendência
de menor crescimento.
O País demorou 10 anos para recuperar, em termos reais, o nível de produção de 2008, mas o PIB (produto
interno bruto) que temos hoje tem uma estrutura bem diferente e, porventura, pior. Portugal é hoje um país
fortemente dependente do comportamento da procura e da oferta dos nossos principais parceiros comerciais, o
que não pode deixar de ser um motivo de grande preocupação para o País. Portugal precisa de crescer muito
acima do que hoje cresce e de se libertar dessas amarras. Mais do que nunca, é importante que o nosso País
se possa libertar das amarras do défice e da dívida, para que o País possa apostar na renovação e ampliação
do aparelho produtivo, no aumento do poder de compra das classes trabalhadoras, na melhoria das
infraestruturas produtivas, no aumento da produção nacional e na substituição de importações por produção
nacional.
Por isso, perguntamos: que medidas vai o Governo tomar para defender os nossos setores produtivos e para
aumentar a produção nacional? Como vai defender, em particular, as nossas pescas, a nossa agricultura, o
nosso setor leiteiro para que possam criar mais emprego e mais riqueza, aproveitando as potencialidades do
País?
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, vou começar por responder à
sua questão inicial. Tenho a certeza de que, daqui a uns anos, quando se olhar para esta Legislatura, porventura
mais do que as medidas isoladas que foram decisivas para cada uma e para cada um dos portugueses, ao longo
destes anos — a reposição deste salário ou daquela pensão, a redução da taxa social e, agora, o programa dos
passes sociais e os manuais escolares gratuitos —, o que será retido será que tivemos uma vitória histórica
sobre a visão do modelo de desenvolvimento que a direita apresentava para o País.
A nossa economia, para ser competitiva, para crescer, para criar emprego, para aumentar o seu potencial de
exportação, não pode assentar numa economia de baixos salários e de destruição de direitos; pelo contrário, é
pela valorização do trabalho, pela qualificação dos recursos humanos e pela aposta na inovação que podemos
ter uma economia mais dinâmica. Esta mudança de modelo de desenvolvimento será, seguramente, o que
perdurará de forma mais duradoura desta Legislatura, porque nunca mais ninguém aceitará voltar a andar para
trás. Já todos, hoje, reconhecem que não é à custa de baixos salários e da destruição de direitos que podemos