21 DE MARÇO DE 2019
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Sr.as e Srs. Deputados, por outro lado, a criação de um imposto com estas caraterísticas terá de resultar de
um compromisso multilateral, envolvendo os países da União Europeia e/ou da OCDE (Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Económico). Resulta claro e evidente que o País sairia a perder se avançasse
isolado, quando outros mais fortes e poderosos não querem correr esses riscos. Neste momento, não existe
qualquer experiência internacional que nos traga expetativas positivas para medidas do mesmo tipo da que o
Bloco de Esquerda traz a debate. Aliás, tivemos hoje oportunidade de ouvir já da parte do Bloco de Esquerda
várias tentativas e vários ensaios que, até agora, foram ensaios falhados.
Sr.as e Srs. Deputados, tem de ser encontrado um sistema jurídico sustentado por acordos internacionais no
sentido de evitar a litigância de natureza fiscal, inclusivamente com o envolvimento de vários países. Sr.as e Srs.
Deputados, o local da criação de valor tem sido utilizado para a fixação da tributação fiscal e, se alterarmos para
o local do consumo, há todo um reformular de normas que obrigarão os governos a entenderem-se na definição
dessas regras.
A interpretação dos princípios fiscais das empresas não deve estar dependente do facto de a empresa
pertencer à economia digital, até porque, cada vez mais, as barreiras e as fronteiras são mais difíceis de definir.
As regras encontradas terão de ser globais e aplicadas a todas as empresas, porque, hoje, todas elas são ou
caminham para uma utilização generalizada de ferramentas digitais e aplicadas a conjuntos relevantes de
países.
A proposta do Bloco de Esquerda remete-nos para um imposto baseado não no lucro, mas sim nas receitas,
e tal mecanismo desencadearia a repercussão nos consumidores deste custo e, mais uma vez, os tornaria
vítimas da solução proposta.
Sr.as e Srs. Deputados, Portugal tem vindo a apostar na promoção internacional de uma imagem que pode
colocá-lo na dianteira dos países amigos da revolução digital que vivemos, pelo que a criação deste imposto
seria mortal para esta estratégia e ambição. Neste contexto, os resultados da Web Summit e das startups seriam
varridos para o caixote do lixo.
Sr.as e Srs. Deputados, em conclusão, não pode o PSD aprovar esta iniciativa por várias razões: os
contribuintes portugueses não teriam qualquer alívio da carga fiscal que suportam e, garantidamente, veriam
aumentar os custos que resultariam do facto do novo imposto, por via indireta, lhes ser imputado.
O Sr. Moisés Ferreira (BE): — O que é «ser imputado»? Diga!
O Sr. Cristóvão Crespo (PSD): — Controlar, liquidar e cobrar, não estando integrado num conjunto mais
vasto de países, de modo a evitar a fuga e evasão fiscal, seria impossível e inevitável.
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Definam-se!
O Sr. Cristóvão Crespo (PSD): — O perigo real de perdermos a possibilidade de integrar o grupo de países
líderes nesta revolução tecnológica, que se encontra no ponto crítico e de afirmação para o futuro, colocar-nos-
ia numa situação de isolamento.
Sr.as e Srs. Deputados, ao contrário do que o Sr. Deputado do Bloco de Esquerda afirmou, o presidente do
nosso partido, o líder do PSD no Parlamento Europeu e o líder do PSD na Assembleia da República são
unânimes em considerar que é necessário aliviar a carga fiscal. Não podemos criar mais um imposto para
sobrepor aos impostos que já temos! O objetivo do Bloco de Esquerda é o de criar mais impostos; o objetivo do
PSD é o de diminuir os impostos pagos pelos portugueses e não aproveitar esse aumento de impostos para os
carregar ainda mais.
Aplausos do PSD.
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Assim se vê de que lado está o PSD!
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado Cristóvão Crespo, inscreveram-se os Srs. Deputados José Manuel
Pureza, Pedro Mota Soares e Fernando Rocha Andrade para lhe pedirem esclarecimentos.
Como pretende responder?