I SÉRIE — NÚMERO 77
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segurança social é de quem trabalha, está melhor hoje do que estava, está melhor porque há mais emprego,
mais salário e mais fontes de financiamento e esse deve ser o caminho a prosseguir.
E por isso mesmo, porque reconhecemos que é com mais emprego e mais salário que se melhora a
segurança social, a pergunta que faço é sobre a legislação laboral e sobre duas propostas que o Partido
Socialista votou na generalidade, mas, que, de facto, não fazem parte do acordo que o Governo fez na
concertação social e que, para nós, são essenciais. São propostas de combate à precariedade, porque só
quando se combate a precariedade é que se aumentam as contribuições para a segurança social e os salários.
São propostas para limitar a contratação a prazo e combater o trabalho temporário e o outsourcing.
A minha pergunta é a seguinte: quando se orgulha dos números da segurança social, não acha que este tem
de ser o caminho e que estas propostas do Bloco de Esquerda devem ir até ao fim?
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Catarina Martins, sobre o debate da legislação
laboral, o Governo cumpriu a sua parte e agora o Parlamento debate a legislação que o Governo apresentou e
as alterações que vários grupos parlamentares apresentaram.
Quanto ao Governo, é muito claro o sentido da nossa proposta de lei: é a primeira que, desde 1976, alarga
os direitos dos trabalhadores e que, em particular, se foca naquilo que é essencial, que é combater a
precariedade por diversas formas.
Em primeiro lugar, combate a precariedade eliminando duas das causas atualmente existentes para que
possa haver um contrato a prazo: ser jovem à procura do primeiro emprego ou ser desempregado de longa
duração. Ora, não há nenhuma razão para que jovens à procura do primeiro emprego ou desempregados de
longa duração sejam condenados à precariedade. É por isso que eliminamos essas duas causas. Se a nossa
proposta de lei for aprovada, essas duas causas serão eliminadas. Se a nossa proposta de lei for rejeitada,
essas duas causas persistirão na legislação portuguesa e continuarão a ser fundamentos para recorrer ao
contrato a prazo.
Em segundo lugar, limitamos a temporalidade do contrato a prazo, limitamos a possibilidade de renovação
do contrato a prazo e asseguramos que não se pode eternizar o contrato a prazo, desde logo porque nenhuma
renovação pode ser superior ao primeiro período de contratação. Portanto, nunca pode haver mais de dois anos
e até pode ser mesmo um ano se a primeira contratação for só de seis meses, porque a segunda renovação
também não pode ser superior à primeira. Por isso, trata-se de uma proposta de lei que é mesmo para combater
a precariedade.
Em terceiro lugar, criamos, pela primeira vez, uma taxa que agrava as condições das empresas que abusem
da rotatividade dos seus recursos humanos. Trata-se, por isso, de uma proposta de lei boa que o Governo aqui
apresentou, cabendo agora ao Parlamento aprovar uma legislação em termos finais.
Quanto à sustentabilidade da segurança social, julgo que estamos totalmente de acordo: a melhor forma de
garantir a sustentabilidade da segurança social é através de uma política económica promotora do emprego. O
brutal aumento de impostos e a recessão que gerou fez com que o desemprego aumentasse de forma dramática.
É por isso que no relatório do Orçamento do Estado para 2015 se previa que já tivéssemos esgotado a
capacidade de sustentabilidade da segurança social e que, ao longo destes três anos, com uma nova política
económica, ganhámos 11 anos sem necessidade de défice e 19 anos sem necessidade do Fundo de
Estabilidade Financeira da Segurança Social.
O Fundo de Estabilidade Financeira da Segurança Social tem hoje um valor record e ainda assegurámos a
diversificação das suas fontes de financiamento. É evidente que o desafio demográfico é um desafio real que
Portugal, tal como nenhuma sociedade europeia, nenhuma sociedade do mundo desenvolvido, pode ignorar.
Mas, combater o desafio demográfico não se faz aumentando a idade dos pensionistas nem diminuindo o
montante das pensões a pagamento, combate-se criando melhores condições para que haja o melhor equilíbrio
demográfico em Portugal. E podemo-nos orgulhar de, em 2017, pela primeira vez em muitos anos, o saldo ter
sido positivo.