26 DE ABRIL DE 2019
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Aplausos do BE, de Os Verdes, de Deputados do PS e do Deputado não inscrito Paulo Trigo Pereira.
O Sr. Presidente da Assembleia da República: — Tem a palavra, para uma intervenção, em nome do
Grupo Parlamentar do PS, o Sr. Deputado Carlos César.
O Sr. Carlos César (PS): — Sr. Presidente da República, Sr. Presidente da Assembleia da República,
Distintos Convidados, Autoridades presentes, Sr. Primeiro-Ministro e demais Membros do Governo, Sr.as e Srs.
Deputados: Já o disse noutras ocasiões: naquele dia incerto e espantado, na maior cidade das minhas ilhas —
onde estavam Melo Antunes e Vasco Lourenço e «onde se liam os jornais do dia vários dias depois», senti, com
o alvoroço dos meus 17 anos, que chegara o momento que amigos e familiares tantas vezes me afiançaram, o
momento em que passaríamos a aprender a viver, uns e outros, usando a liberdade, o momento em que nos
passariam a ver e não a espiar, o momento em que nos passariam a tomar como uma parte ativa e não como
um todo inerte, o momento em que os que temiam falar e ser escutados, fariam, enfim, chegar livremente a sua
voz ao seu destino.
Separado do cenário das colunas verdes de esperança, que os militares formaram a mais de 1600
quilómetros de distância, tardou mas veio o anúncio de que tínhamos chegado à casa da partida. Acabara o
jugo da ditadura, era a hora do jogo democrático.
Foi como se, aos portugueses e às portuguesas, tivesse sido atribuída, ou devolvida, a maioridade cívica. Só
quem não imagina como falecemos em ditadura é que poderá pensar que é pior viver, não ganhando sempre,
em democracia.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Carlos César (PS): — O espírito do 25 de Abril é o de sermos valorizados e respeitados por pensarmos
e por agirmos todos de forma diferente. Por isso, para nós, para o partido de Mário Soares, evocar hoje o 25 de
Abril não é, necessariamente, depreciar a direita política ou obrigatoriamente exaltar a esquerda, é respeitarmo-
nos na nossa diversidade!
Aplausos do PS.
Mas todos os cuidados são poucos.
A história contemporânea de Portugal avisa-nos. Fez em 31 de março passado 198 anos que o regime liberal
aboliu o Tribunal da Inquisição. Um século depois, com a Ditadura Nacional e o Estado Novo, o regime de
privação das liberdades públicas vigorou como «um sistema» e não como «um parêntesis» e, como asseverava
a oficialidade, pela voz de Marcello Caetano, o que mais o perturbava era «A ‘velha Europa’ do decadentismo
democrático e da pulverização de valores». Uma sonoridade, como se nota, com estranhos ecos nos nossos
dias…
Estamos, assim, a apenas 45 anos exatos de distância histórica do espírito do Tribunal da Inquisição. Tão
perto!…
Srs. Presidentes, Sr.as e Srs. Deputados: No desígnio de pensar um Portugal reconstruído, é meu grato dever
evocar a memória tutelar do açoriano José Medeiros Ferreira, na sua formulação das tarefas que caberiam ao
futuro Estado de Direito: «Democratizar, Descolonizar, Desenvolver».
Foram e são tantos os desafios que essas tarefas nos impuseram e nos impõem.
Fizemos a descolonização africana, ou, talvez e também, ela fez-se por si própria, sobretudo porque a
demora foi grande, a demora de mais de uma década dos descolonizadores, que se conjugou com o
voluntarismo impacientado dos colonizados. Restaurámos, aos poucos e até há bem pouco tempo, confianças
perdidas, sendo agora reconhecido, no espaço lusófono, o valor reforçado da nossa cooperação política e
económica que requer, de forma necessariamente mais enérgica, ser concretizada.
Curiosamente, foi com o fim do Portugal colonial que retomámos a nossa vocação universal, contribuindo
para isso outra das evidências que o País político frequentes vezes ignora: o espaço do triângulo territorial
português que nos configura como uma força euro-atlântica. É nessa dimensão que hoje encontramos muitos