16 DE MAIO DE 2019
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e a reduzir a introdução de mais materiais na produção, reduzindo esta injustiça climática que advém do nosso
setor produtivo.
O Sr. Heitor de Sousa (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Maria Manuel Rola (BE): — Deixo-lhe também um outro conselho, Sr. Ministro.
Os setores menos desenvolvidos nas estratégias para a neutralidade carbónica estão definidos e são aqueles
que poderiam, de facto, contribuir de uma forma renovável para a redução das emissões: a eficiência energética,
que poderia melhorar cerca de 30% as perdas na rede; a produção solar e descentralizada; e, por fim, o
investimento público no alargamento dos transportes, nomeadamente a ferrovia.
Está tudo identificado, Sr. Ministro. Ainda tem possibilidade de fazer alterações à execução deste Governo e
tem também possibilidade de ser mais exigente nas medidas que tem em cima da mesa.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Matos Correia): — Com esta intervenção, damos por encerrada a fase de debate e
passamos à fase de encerramento.
Em primeiro lugar, tem a palavra, para uma intervenção, o líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Sr.
Deputado Pedro Filipe Soares.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: O Sr.
Ministro do Ambiente, que gostamos sempre de ver devido à sua simpatia, chegou aqui com um deslumbramento
que nós não esperávamos neste contexto.
Trouxe o roteiro para a descarbonização da economia como sendo o seu documento, o único, aquele que,
apenas e só, valia a pena olhar; num outro contexto poderia ter dito «my precious». Esse era o único documento
que o Governo poderia aqui apresentar, a única coisa que consegue ver, aquela pela qual vive, não havendo
vida para além disso.
Sr. Ministro, lamento desiludi-lo e dar-lhe aqui um golpe profundo nesse deslumbramento, mas a realidade
está a ultrapassar-nos rapidamente. Por isso, quando trazemos um debate sobre a emergência climática, a
resposta é que não é um debate sobre simbolismo, mas, antes, um debate sobre a preocupação que não pode
passar à margem de cada uma e de cada um dos decisores políticos.
À pergunta que está em cima da mesa — o que é que acontece se esta Assembleia da República declarar o
estado de emergência climática e o que acontece se o Governo declarar o estado de emergência climática? —
, a resposta clara e inequívoca que daremos é que Portugal, o país da União Europeia que terá dos maiores
prejuízos com as alterações climáticas, está preocupado com o seu futuro. Diremos aos jovens que estão nas
galerias que este futuro, que é deles, está na nossa preocupação e diremos, também, que estamos a tomar a
dianteira deste debate à escala europeia.
Dir-nos-á o Governo: «Mas nós já o estamos a fazer». Infelizmente, isso não é verdade. Vejamos, por
exemplo, as prioridades para o orçamento europeu: está lá a preocupação no que diz respeito às alterações
climáticas? Não está! Está a defesa do militarismo como o grande novo pilar para o orçamento europeu.
O Sr. Heitor de Sousa (BE): — Muito bem!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Quem é que perde? Perde Portugal. Quem é que ganha? Ganha a
indústria do armamento. Quem é que falhou? Falhou o Governo português, o Governo de um dos países mais
afetados, que deveria ter dito à Europa que há uma emergência climática e temos de olhar para ela.
Por isso, sempre que se diz que esta emergência climática é apenas e só simbolismo, estamos a falhar ao
debate fundamental e a passar ao lado das prioridades.
Mas há um outro aspeto que eu não posso deixar de mencionar e que tem a ver com a forma como o Sr.
Ministro entrou neste debate. Tentou trazer um debate passado sobre o ISP e as promessas do Governo a que
pertence sobre a manutenção de uma neutralidade fiscal e fazer esquecer, com este debate, que é este mesmo
Governo que vai prolongar a vida das centrais a carvão. E sobre isso tenta desviar as atenções!