I SÉRIE — NÚMERO 88
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Mais grave ainda foi dizer-nos que o roubo, que todos nós sentimos na nossa fatura energética — da EDP e
das outras grandes empresas da energia —, no que toca às rendas da energia, não acontece. Dizia-nos o
Ministro: «Bem, existe um debate sobre rendas da energia, mas há aqui um mal feito ao País quando se introduz
isto como sendo um problema, porque estamos a atacar uma energia ambientalmente sustentável».
Sr. Ministro, se alguém nos disser: «Tenho aqui uma arma, vou assaltá-lo. Isto é um assalto», não é por o
Sr. Ministro vir atrás e dizer «Atenção, é um assalto ambientalmente sustentável» que deixa de ser um assalto!
É um assalto e, como é um assalto, retira dinheiro para, depois, podermos investir numa transição energética
ambientalmente sustentável. Esta é que é a grande discussão.
Aplausos do BE.
Quem é que se defende com este assalto? É uma imagem verde destas empresas da energia? Não, Sr.
Ministro! O greenwashing é aquela atuação do Sr. Ministro ao tentar lavar a imagem deste assalto. Não é por a
EDP ou outros terem mais dinheiro no bolso que o nosso País fica melhor apetrechado para responder às
alterações climáticas.
Por isso, há aqui, claramente, um debate por fazer e ao qual o Governo, tendo coisas que reconhecemos
que fez bem, está a falhar nas prioridades e no passo, na aplicação do calendário.
Por isso, uma das perguntas fundamentais ficou por responder ou, melhor, foi respondida por inação. A
pergunta é a de saber se o Governo está disposto a ir além do Acordo de Paris, que a realidade demonstra que
já está ultrapassado pelas alterações climáticas e pelo aquecimento global. Ir além do Acordo de Paris não é
cumprir as metas da neutralidade carbónica de 2050, é fazê-lo antes. A nossa proposta é que seja até 2030 e o
que o Governo nos diz é que não é possível.
Sr. Ministro, isso é que não pode acontecer. Não se deslumbre com o que fez e responda à urgência climática
das novas gerações, de um País que precisam de exemplos para fazer a mudança que o mundo também precisa
de seguir.
Desse ponto de vista — e vou terminar, Sr. Presidente —, assobiar para o lado com o que está a acontecer
num dos pontos fundamentais de uma alteração na nossa economia, os transportes, não é aceitável. Ignorar,
como aqui foi feito, que existem problemas na oferta que não responde às necessidades de quem quer utilizar
os transportes coletivos é ignorar uma realidade inultrapassável. Ignorar que há supressões de comboios,
supressões de metros, supressões de barcos é inultrapassável. Fazer essa escolha é termos um ministro não
do ambiente, mas da propaganda. E, Sr. Ministro, não queira que esse seja o seu fim.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Também quero agradecer ao Sr. Deputado Pedro Filipe Soares
por se ter contido dentro do tempo de que dispunha.
Para encerrar o debate, tem a palavra o Sr. Ministro do Ambiente e da Transição Energética.
O Sr. Ministro do Ambiente e da Transição Energética: — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Muito
obrigado pela oportunidade.
Começo por responder — não posso deixar de o fazer — a três ou quatro questões que ficaram em aberto.
Não sei mesmo de que se orgulha o Deputado Bruno Coimbra quando vem dizer que este Governo não
promoveu a utilização dos transportes coletivos e que o PSD votou contra o PART (Programa de Apoio à
Redução do Tarifário dos Transportes Públicos). A única coisa que me recordo que o anterior Governo fez nesta
matéria foi, dias antes de ir embora, ter concessionado metade do Algarve para a exploração de petróleo!
O Sr. João Paulo Oliveira (PS): — É verdade!
O Sr. Ministro do Ambiente e da Transição Energética: — Sim, nós ouvimos os manifestantes, e com
muito gosto. Aliás, descobrimos que as metas do Governo, de redução de emissões para 2030, é superior à
meta proposta pelos próprios manifestantes. Por isso, não fomos só nós que ouvimos os manifestantes, os
manifestantes também nos ouviram e corrigiram essa mesma meta.